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01/02/2025

Depoimento da historiadora, mestranda, Tereza D’avila Sindor | NOVA OLINDA-CE

Jornalista Lucélia Muniz

Ubuntu Notícias, 01 de fevereiro de 2025

@luceliamuniz_09     @ubuntunoticias    @terezadavilaa_

Fotografia @kevinleitevideo

Me chamo Tereza D’avila Sindor, sou filha de Maria do Socorro Sindor (Mariinha) e neta de Dona Maria Ilza e Seu Zé Sindor, com quem vivo desde o meu nascimento, na cidade de Nova Olinda-CE. Hoje, aos 22 anos, recebo o meu diploma de formação no curso de licenciatura em História, pela Universidade Regional do Cariri - URCA, uma vitória acompanhada de outra aprovação, desta vez no programa de mestrado da Universidade Federal da Bahia - UFBA, localizada em Salvador.

Passei por um caminho desafiador para chegar até aqui, tive a ajuda da minha família e dos meus amigos, que sempre me apoiaram em todas as minhas decisões, e agora, além da colação de grau, comemoro a minha aprovação em um programa de pós-graduação renomado no nosso país.

Iniciei minha vida escolar no ensino público, passando por boa parte das escolas da nossa cidade, e por isso, atribuo a minha vitória também a todos os professores que, pacientemente, me acompanharam durante o meu processo de formação. Concluí o ensino médio na EEEP Wellington Belém de Figueiredo, também localizada na cidade de Nova Olinda, e logo em seguida, ingressei no ensino superior, pela Universidade Regional do Cariri - URCA, no curso de História.

A partir daquele momento, soube que gostaria de contribuir com um trabalho que preservasse a cultura e memória do povo caririense. Foi assim, que decidi pesquisar no meu trabalho de conclusão de curso um recorte da religiosidade do Cariri: a figura da mulher rezadeira e a hibridação que compõem esse ofício, tornando-o um traço emblemático da nossa cultura.

Uma das coisas primordiais que aprendi durante o trabalho de campo e o ofício de construir um trabalho dentro da história oral, é que um dos pontos principais do meu trabalho, enquanto historiadora, seria amplificar as vozes de mulheres sertanejas que dedicaram/dedicam boa parte de suas vidas a ajudar o próximo nos momentos de angústia e aflição, oferecendo um serviço espiritual e de saúde acessível àqueles que precisam dos seus cuidados.

Portanto, falar das práticas e crenças dessas mulheres se entrelaça às suas histórias de vida, suas construções sociais e às comunidades que se inserem, o que me permitiu explorar aspectos históricos e até mesmo antropológicos da nossa cidade de forma satisfatória.

Por essa razão, dentro da minha pesquisa, busquei trazer uma base historiográfica nos processos de formação histórica e cultural da cidade de Nova Olinda, de forma que me permitiu mapear dados sobre o surgimento da prática da mulher rezadeira na referida cidade, e ainda, traços de uma cultura híbrida no Brasil, o que remonta ao período colonial.

Assim, analisando o contexto histórico em que estas se inserem, percorro histórias de mulheres rezadeiras da nossa atualidade, investigando o processo do que conhecemos como hibridismo cultural e religioso de suas crenças, costumes e práticas.

Minha relação com a temática, surgiu da relação que tenho com a senhora rezadeira que reside na minha rua, inclusive, uma das entrevistadas na minha pesquisa, Dona Maria de Gonçalo, que me benzia desde o meu nascimento, inclusive, sendo a primeira pessoa a me visitar quando nasci. Digo isso para enfatizar que além de uma justificativa acadêmica, existe neste processo uma justificativa pessoal ao interesse em pesquisar as rezadeiras.

Lembro de ter crescido ouvindo a minha avó falar  das inúmeras vezes que Dona Maria me socorrera em episódios de dores de ouvido, dores de estômago, cólicas, “mau olhado”, “vento caído”... E eu ficava pensando na importância do atendimento que essas mulheres forneciam à pessoas que em tempos remotos não podiam pagar por atendimentos médicos, falo em tempos remotos porque um dos fatores que pude notar durante a pesquisa é que, hoje, apesar de em sua maioria atenderem à pessoas pobres, as casas das rezadeiras são espaços frequentados por pessoas de diferentes classes sociais.

Foi com o intuito de entender essa prática que mistura aspectos culturais, religiosos e medicinais distintos que me empenhei em trabalhar ao lado dessas mulheres, e assim, seguir minha jornada acadêmica.

Outro ponto que gostaria de destacar, se refere à minha permanência na universidade, que só foi possível devido aos programas de fomento à educação superior. De modo que, iniciei minhas atividades como bolsista ainda no segundo semestre do curso, tendo sido bolsista de extensão no Instituto de Arqueologia do Cariri, de iniciação científica no laboratório de pesquisa em História Cultural da URCA, e no último semestre em atividades de monitoria.

E por isso, eu e a minha família somos muito gratos aos programas ofertados para incentivo à educação no ensino superior público. Pois, além da dádiva de me manter na universidade, pude participar de eventos acadêmicos importantíssimos para a minha formação, como no caso do Seminário Nacional de História, promovido pela ANPUH, na cidade de São Luís - MA, o Seminário Nacional de Teoria da História e Historiografia, ocorrido na cidade de Ouro Preto - MG, e tantas outras oportunidades ricas, como a visita ao Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, o maior sítio arqueológico da América Latina.

Tudo isso me permitiu entender que para se fazer ensino é necessário investir em pesquisa, pois ambos são indissociáveis, e foi graças às bolsas que pude seguir cultivando os meus sonhos, até a chegada do tão esperado curso de mestrado. Por isso, afirmo: a educação pública funciona, quando se há o investimento devido!

E para os jovens que estão no ensino médio ou prestes a entrar na graduação, digo que não desistam do ensino superior, invistam o seu tempo em educação e agarrem as oportunidades que vão surgindo ao longo deste caminho, que é dolorido, mas também tem os seus momentos de prazer. A vista do topo é muito bonita, mas observar os detalhes do caminho até sua chegada é crucial para não se perder de tudo aquilo que se acredita.

Um comentário:

  1. Parabéns 👏. O ofício do historiador é lembrar o que nos querem fazer esquecer. Tenha uma jornada de aprendizagem e conquistas.

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