10/09/2023

Porque algumas comidas tem sabor de infância | MEMÓRIAS

Lucélia Muniz

Ubuntu Notícias, 10 de setembro de 2023

@luceliamuniz_09     @ubuntunoticias

Costumo sempre que possível olhar com carinho e buscar algumas histórias em meu baú de memórias. Ora, muitas das nossas histórias sobreviveram por meio da oralidade, do contar histórias numa noite estrelada. Os nossos ancestrais sentados em volta de uma fogueira, cercados por crianças que escutavam atentas cada “causo”. Eu fui uma dessas crianças que gostava de ouvir histórias.

Assim, até hoje quando olho para alguns alimentos vem uma memória saudosa que me remete a infância. Cheiros, sabores, o compartilhar do alimento, a forma como este é preparado, como houve a aquisição deste, e assim por diante.

A comida preparada na panela de barro, com colheres de pau, a água do pote, no fogão a lenha. E quando a seca castigava, restava alguns grãos de feijão cozidos com banana verde e um pouco de farinha como complemento. Mamãe nos contava esta história quando dizíamos que não queríamos comer... a reflexão vinha com a história da nossa avó que passará situações extremas nos períodos de seca para criar os filhos.

Outro momento que guardo na memória é de quando sentávamos a mesa com nossos pais durante as refeições. Mamãe amassava um pouco de feijão com farinha com as mãos e fazia o que conhecemos como “capitão” – um bolinho de farinha e feijão. Este capitão era servido na minha boca e da minha irmã mais nova... sentávamos próximo a mamãe para usufruir do capitão durante as refeições.

Lembro quando mamãe passava em uma panificadora ao ir fazer compras numa outra cidade e nos trazia um pão bem grande recoberto com recheio de coco. Era uma delícia e ela o dividia de forma que todos pudessem comer. Outro dia voltei nesta mesma panificadora e pedi do mesmo pão. Não teve o mesmo sabor. Talvez o que tornava aquele pão tão especial e saboroso fosse a atitude de mamãe em trazê-lo para casa e dividir com todos os filhos!

Quando sentávamos a mesa cada um de nós tinha seu lugar de assento. Nossa mesa tem 08 cadeiras e papai sentava sempre a cabeceira da mesa, local sagrado, que não ousávamos ocupar em sua ausência. Eu chamava de canto do poder! Hoje esta mesa está em minha casa, depois de passar pela casa de alguns de meus irmãos. Tem uma madeira resistente como não se usam mais nas marcenarias.  É envernizada na cor preta e hoje eu sento a mesa no canto do poder outrora ocupado por papai. Mas, não deixo de lembrar que este local específico da mesa me remente a sua memória!

Sobre as minhas memórias? Estão preservadas neste baú*!

*Baú - O baú ou arca é uma das formas mais antigas de mobiliário. É uma estrutura tipicamente oca com uma tampa móvel. Era usado principalmente para armazenagem de roupas finas, comida e itens de valor.

Sempre que possível revisite também suas memórias, estas fazem parte da construção da nossa identidade e ajudam a manter viva a nossa história, seja pela oralidade, seja pela escrita.

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