13/09/2023

As praias que conhecemos Por Tiago Novaes | MEIO AMBIENTE

Lucélia Muniz

Ubuntu Notícias, 13 de setembro de 2023

@luceliamuniz_09     @ubuntunoticias

Quando os portugueses atracaram no Brasil e tiveram a noção da exorbitância de costa marítima do novo continente, não deve ter passado por suas cabeças que estariam pisando, ao caminharem na praia, em obras de arte preciosas, o resultado de um esforço lento e detalhista.

Pois a areia é isso: um processo único de sedimentação do quartzo e do feldspato, resultado de um processo de milhares, talvez milhões de anos.

Nem toda costa é arenosa. Existem as rochosas, os mares que quebram em falésias muito altas. E existem os diques, construídos pelo homem, obras de contenção da força das ondas.

Quando se fala em urgência climática, vêm logo à tona a elevação do nível dos mares, um processo complexo, cheio de fatores e influências cumulativas. Em uma projeção otimista, uma redução das emissões de efeito estufa que contenham o aquecimento global a 2 graus Celsius poderia resultar numa elevação dos mares em até dois metros até 2100. Seria o suficiente para que todas as praias que você conhece desapareçam debaixo d’água.

Praticamente dois terços das principais cidades do mundo ficam no litoral. Xangai, Amsterdam, Barcelona, Salvador, Rio de Janeiro, Mumbai, Hong Kong, Londres, Miami, Manhattan. Grande parte da estrutura da internet pode ficar debaixo d’água, além de portos, usinas, deltas, pântanos e arrozais.

Mas esta, como dissemos, é a perspectiva mais conservadora. O que vemos é que o ritmo do aquecimento tem aumentado. As inundações já quadruplicaram desde 1980, segundo o Conselho Consultivo da Associação Europeia de Academias de Ciências (EASAC). De 2004 para cá, chegaram a dobrar. Aos poucos, os cientistas vão se dando conta de que outros fatores desviam as curvas e a previsibilidade dos panoramas otimistas.

O permafrost do Ártico está derretendo a uma velocidade imprevisível. Além do volume de água que o gelo vai liberar, o permafrost contém mais de 1,8 trilhão de toneladas de carbono, que é mais do que existe na atmosfera atualmente. Com o derretimento das geleiras, o planeta estará susceptível ao efeito Albedo: parte do calor do sol é refletido de volta graças ao gelo branco. Quando este gelo derrete, o planeta passa a absorver este calor, ao invés de refleti-lo.

David Archer, especialista em oceanografia química, prevê que apenas três graus de aquecimento do planeta provocarão um aumento do nível do mar em pelo menos cinquenta metros. É o suficiente para deixar Manaus, Buenos Aires e Londres debaixo d’água, assim como Istambul e Calcutá. Santos desapareceria ao lado do Guarujá e de Cubatão.

Talvez o Dilúvio e Atlântida não sejam mitologias de um passado remoto, mas augúrios de um futuro iminente.

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