Lucélia
Muniz
Ubuntu
Notícias, 14 de agosto de 2023
@luceliamuniz_09 @ubuntunoticias @ectiagonovaes
O que atira as pessoas ao excesso é a iminência da falta.
A maioria das pessoas que procuram “como ficar rico” na internet está buscando como se safar da violência de uma sociedade injusta. Reconhecem tacitamente que seus direitos só estarão garantidos enquanto privilégios. Têm medo da doença, das oscilações econômicas, são assombradas pelas histórias ruins do passado.
O medo trabalha em segundo plano. O excesso é, no fundo, um desejo impotente de controlar a sorte diante de uma realidade alarmante. Sabemos que os âncoras de televisão nunca dirão: “Chega, temos de fazer alguma coisa.” Seguirão apresentando a conjuntura em pedacinhos. Uma notícia aqui, outra ali. O todo se esconde nas partes. E o nosso medo o intui.
A poética da suficiência reconhece esse dado. Excesso e falta caminham juntas. As pessoas tentam compensar uma com a outra: a compulsão com o exercício de alto impacto; o medo da solidão com injeções de botox; a pobreza com a ostentação. Endorfina e ansiedade são codependentes, e basta fecharmos os olhos para meditar que perceberemos o quanto a nossa subjetividade parece querer agarrar-se aos conflitos. Desde crianças, incutimos a ideia de que o barulho nos dá um contorno.
As pessoas não precisam de dieta. Precisamos de um repertório de
convívio com a falta. Precisamos de outros parâmetros de sucesso. Entender que
somos o bastante. Que não precisamos ser dependentes de um projeto. Que o
futuro não nos salvará. E que podemos prescindir das distrações e dos
subterfúgios. Para buscar uma sociedade mais justa, também precisamos trabalhar
a violência introjetada, nossa sede de império e de controle. Para buscar a
calma, precisamos de calma.
0 comments:
Postar um comentário
Deixe seu comentário mais seu nome completo e localidade! Sua interação é muito importante!