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Notícias, 21 de janeiro de 2022
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Via Facebook do Não
Me Kahlo
O texto que segue é um depoimento da saudosa Elza Soares:
"O meu filho mais velho João Carlos estava morrendo e eu já tinha
perdido 2 filhos e não queria perder mais um.
Eu não tinha dinheiro pra cuidar do meu filho e ouvi no rádio que
o programa do Ary Barroso de calouros Nota 5, estava com o prêmio acumulado.
Não sei como, mas eu sabia que ia buscar esse prêmio!
Fiz a inscrição e me avisaram que eu precisava ir bonita. Mas eu
não tinha roupa nem sapatos, não tinha nada! Então, eu peguei uma roupa da
minha mãe, que pesava 60kg e vesti, só que eu pesava 32kg, já viu né? Ajustei
com alfinetes. Tudo bem que agora é moda ne? Hoje até a Madonna usa, mas essa moda
aí fui eu que comecei viu? Alfinetes na roupa é muito meu, é coisa de Elza!
No pé coloquei uma sandália que a gente chamava de “mamãe tô na
merda”, e fui!
Quando me chamaram, levantei e entrei no palco do auditório. O
auditório tava lotado, todo mundo começou a rir alto debochando de mim. Seu Ary
me chamou e perguntou:
- O que você veio fazer aqui?
- Eu vim Cantar!
- Me diz uma coisa, de que planeta você veio?
- Do mesmo planeta seu Seu Ary.
- E qual é o meu planeta?
- PLANETA FOME!
Ali, todo mundo que estava rindo viu que a coisa era séria e
sentaram bem quietinhos.
Cantei a música Lama. O Gongo não soou e eu ganhei, levei o prêmio
e meu filho está vivo até hoje, graças a Deus!
De lá pra cá, sempre levo comigo um Alfinete. Naquela época eu
achava que se tivesse alimentos pros meus filhos, não teria mais fome. O tempo
passou e eu continuei com fome, fome de cultura, de dignidade, de educação, de
igualdade e muito mais, percebo que a fome só muda de cara, mas não tem fim. Há
sempre um vazio que a gente não consegue preencher e talvez seja essa mesma a
razão da nossa existência".
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