Lucélia Muniz
Ubuntu Notícias, 26 de maio de 2021
@luceliamuniz_09 @ubuntunoticias @agenciaclick__
Via Curso Educação para as Relações
Étnico-Raciais
As crianças ricas brincam nos jardins com seus
brinquedos prediletos. E as crianças pobres acompanham as mães a pedirem
esmolas pelas ruas. Que desigualdades trágicas e que brincadeira do destino.
Carolina Maria de Jesus
Nos últimos anos, as questões e debates que refletem sobre a posição relativa de mulheres e homens na sociedade modificou-se de forma intensa no Brasil e outras partes do mundo. Em algumas realidades os conflitos de gênero foram marcados e circunscritos por lutas e reinvindicações que acarretaram transformações na política, nas legislações sobre o direito reprodutivo, bem como no entendimento dos papéis de gênero e das relações em que estes se conformam.
Analisar as relações de gênero e compreendê-las em sua concretude nos impõe romper com a universalidade desse conceito, conforme foi abordado no tópico 1 ao discutir interseccionalidade. As mulheres em suas lutas históricas possuem anseios e realidades objetivas materiais distintas, que acomodam recortes sociais e escalas espaciais, o que torna indispensável recorrermos dos marcadores sociais como ponto de partida para compreender as experiências e as necessidades das mulheres, entendidas pelas suas diferenças e destacando as desigualdades de classe e raça.
A partir desse olhar, é possível compreender os sujeitos a partir das suas experiências no mundo, que foram culturalmente constituídas e marcadas por componentes que a sociedade reelabora e distingue com base no tempo e no espaço. Marcadores sociais que imprimem nos sujeitos gênero, raça, classe, religião, geografia, sexualidade, geração, entre outras, são variáveis que se interseccionam e tomam corporeidade de uma forma em que a diferenciação do indivíduo constitui o outro ao mesmo tempo em que é constituído pelos demais (Biroli , 2018), tanto do ponto de vista da configuração de sistemas de classificação social, como da constituição de corpos e identidades coletivas.
A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) divulgou em março de 2021 um relatório que aborda o Panorama Social da América Latina 2020, esse estudo apontou que o número de pessoas pobres aumentou em um total de 209 milhões no final de 2020, o que representa nesses países as taxas de pobreza de 33,7% e de extrema pobreza de 12,5%.
Segundo esse relatório, a pobreza e a extrema pobreza alcançaram em 2020 na América Latina níveis que não foram observados nos últimos 12 e 20 anos, respectivamente. Esses dados são constatados com uma piora dos índices de desigualdade na região e nas taxas de ocupação e participação no mercado de trabalho, sobretudo das mulheres. O que coloca em evidência a injusta divisão sexual do trabalho, a organização social do cuidado, atrelada às características estruturais que caracterizam as sociedades latino-americanas e os altos níveis de informalidade e desproteção social que comprometem o pleno exercício dos direitos e a autonomia das mulheres. (CEPAL, 2021).
# Entre as mulheres, a taxa de
desocupação é maior que a dos homens, chegando a 17,2%.
# Sem uma política efetiva de assistência
social e com a situação agravada com a pandemia, muitas trabalhadoras e
trabalhadores se viram desempregados.
# É importante entender os motivos pelos quais as mulheres foram as mais afetadas durante o primeiro ano da Covid-19 e de como as desigualdades se tornaram ainda mais acentuadas.
Na fala da irmã Gabriela, membro da pastoral carcerária no Ceará, ao discorrer sobre a realidade das mulheres encarceradas no nosso estado, ela aponta o perfil dessas mulheres, e destaca a situação de vulnerabilidade, onde a maioria são negras, periféricas, com baixa escolaridade e que se encontravam fora do mercado de trabalho ou em condições de trabalho muito precarizadas.
Nesse contexto explanado ela afirma que “A pobreza tem rosto de mulher” ou seja, podemos verificar que há uma crescente feminização da pobreza no Brasil.
E ainda, se torna contundente destacar o contexto político, com um governo de extrema direita, que privilegia uma política neoliberal de privatizações e de cortes nos direitos trabalhistas, e que atenta cotidianamente contra os Direitos Humanos.
A feminização da pobreza não é uma questão atual, é uma realidade que remonta à década de 1970, juntamente com os movimentos migratórios do campo para as cidades, o processo de favelização e a espoliação urbana. Esse termo foi difundido no início da década de 1990 junto aos debates em torno da fome e da pobreza, realizados pela Organização das Nações Unidas (ONU) e que tomou destaque para as frentes humanitárias que se deslocavam para a América Latina e a África.
A feminização é compreendida como um processo,
não se trata apenas da quantificação, do número maior de mulheres na linha da
pobreza, mas da própria estrutura econômica e das relações de poder que
condicionam esse lugar da mulher na sociedade. Refletir essas questões é
dialogar com algumas obras clássicas
do Josué de Castro, como a Geografia da Fome e a Geopolítica da Fome , onde em
seus estudos é possível compreender que a Fome é a síntese da má distribuição
das riquezas e dos produtos, e não da escassez em termos quantitativos. Surge
então a necessidade de pensar a feminização, a fome e
a pobreza no Brasil também pelo viés da colonização e da dependência econômica
a que o país ficou submetido por séculos, que em tempos de pandemia tem
aflorado nas grandes cidades, a exemplo de Fortaleza, as pessoas estão pedindo
comida nas esquinas, mulheres e crianças se amontoando nas calçadas com
papelões escritos “Tenho Fome”.
0 comments:
Postar um comentário
Deixe seu comentário mais seu nome completo e localidade! Sua interação é muito importante!