Lucélia Muniz
Ubuntu Notícias, 05 de julho de 2020
André
Tavares*
*Advogado,
pós-graduando em Direito Bancário, bacharel em Direito pela Faculdade Paraíso
do Ceará (FAP-CE).
Ana
Valéria Ferreira*
*Assistente
jurídica, aprovada no XXX Exame Unificado da OAB, pós-graduanda em Direito
Público, bacharela em Direito pela Faculdade Paraíso do Ceará (FAP-CE).
O racismo surgiu no Brasil juntamente
com a colonização do índio. Os europeus submetiam os indígenas aos modos de
vida e cultura europeias, tratando até como demonizados os que não seguiam a
sua religião. O mesmo foi feito com os africanos.
Ser diferente, afinal, tornou-se
motivo para perseguições. Aqueles que não seguiam a religião dominante eram
perseguidos. Os que não possuíam o mesmo biótipo da maioria também passaram a
ser perseguidos. Apesar de práticas da idade média, o preconceito, a discriminação,
o desprezo e a intolerância perduraram com o sistema capitalista. Tais praticas,
ainda que todos saibam ser erradas, permanecem de forma reiterada, muitas vezes
disfarçadas na consciência das pessoas.
Visando a diminuição de tais condutas,
o ordenamento jurídico brasileiro apresentou um crescente avanço quanto à
legislação de combate ao racismo. Além da Carta Magna, o tema é abordado de
forma mais específica na Lei do Racismo, a lei n.º 7.716/89, e no artigo 140, §3º
do Código Penal Brasileiro, que trata sobre a injúria racial.
O conceito de injúria racial e racismo
são diferentes, enquanto o primeiro aborda a pratica de ofender de forma
individualizada a honra e dignidade de outrem por meio de elementos como raça,
cor, etnia, religião ou origem, o crime de racismo discrimina toda a
integridade de um desses elementos, atingindo de forma indeterminada uma
coletividade de indivíduos.
Com o avanço da tecnologia, a internet
se tornou o campo de atuação perfeito para ocorrência do crime de racismo. É
comum encontrar postagens e comentários extremamente ofensivos que configuram
essa ideia de superioridade racial.
A legislação brasileira defende o
respeito aos direitos fundamentais, punindo não apenas os autores do crime, mas
também responsabilizando aqueles que compartilham ou curtem as ofensas. Engana-se
quem pensa que o aparente anonimato serve de escudo para as agressões, pois
existem diversos mecanismos capazes de auxiliar na identificação dos autores do
crime.
É importante ainda diferenciar o que
acontece em um processo envolvendo o crime de racismo e o de injúria racial.
Aquele que comete o crime de racismo não poderá aguardar o trâmite do processo
mediante pagamento de fiança. Outra diferença é de que, uma vez descoberta a
prática do crime de racismo, independentemente do tempo, o ofensor poderá ser
processado, mesmo que já tenham se passado décadas, pois é um crime
imprescritível.
Pela lei, a democracia racial existe
no Brasil. Porém, tal afirmação perde validade quando se passa a analisar, por
exemplo, a aceitação dos negros na ocupação de cargos de prestígio em
determinadas áreas, principalmente, política e economia.
Além disso, é cada vez mais comum
ouvir relatos do tipo “toda vez que me aproximo, eu tenho a impressão que elas
seguram a bolsa com mais força” ou “toda vez que eu tento apresentar uma nova
ideia no trabalho, as pessoas sempre dizem que não é bem assim, mas quando
outra pessoa repete tudo que eu disse, a ideia é bem aceita”.
Antes de buscar uma solução para o
problema, é preciso reconhecer o racismo e os efeitos negativos que esses atos produzem,
afetando a saúde física e mental das vítimas.
É preciso dar voz para aqueles que
sofrem ou já sofreram preconceito possam contar suas histórias. Não é possível
ficar calados diante de processos tão violentos. Por fim, é necessário dar continuidade
ao caminho trilhado pelos que lutaram pela sua liberdade.
O racismo é um problema hereditário,
ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor da sua pele, sua origem ou religião.
Os pais são o espelho para os filhos, netos e para os que convivem no meio
familiar. Assim como as pessoas aprendem a odiar, também podem aprender a amar.
Você, leitor, trabalhe o seu
preconceito, leia sobre o assunto, olhe-se no espelho todos os dias e entenda
seus traços, entenda seu fenótipo. A mudança não chegará de outra forma senão
com a participação de todos, tomando a iniciativa e começando esse processo
dentro de casa. Negar e silenciar é aceitar o racismo.
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