Lucélia Muniz
Ubuntu Notícias, 17 de maio de 2020
Por Myrian Veloso*
*Myrian Krexu -
Indígena da Nação Guarani Mbyá; Médica Residente de Cirurgia
Cardíaca.
- O relato que você vai ler a seguir foi postado
no Instagram da mesma a cerca de 03 semanas:
Há mais de 30 dias não abraço meu esposo,
mantemos distância ao partilhar refeições e lazer, tiro a roupa quando chego do
hospital na porta de casa, passo álcool nas mãos, nas chaves, no telefone e
sigo direto para o banho antes até mesmo de falar “Oi”.
Não deixo ele sair para ir ao supermercado ou
farmácia e já que eu sou obrigada a sair por motivos da profissão, essas
tarefas tornaram-se exclusivamente minhas.
Fico pensando, como é possível sentir saudades de
quem está perto? Chego ao hospital e fico feliz quando encontro algum amigo,
porque embora não possamos nos abraçar ainda podemos ver algum sorriso amigável
nos olhos de um colega. As vezes vemos o medo passar nos olhos uns dos outros,
porque somos humanos afinal.
Muitos de nós tem alguém pertencente à um grupo
de maior risco em casa, quando não somos nós mesmos. Nomes conhecidos e de
pacientes que acompanhamos as vezes se tornam “um Covid positivo” e tudo vai
ficando mais real. Há 30 dias eu saio com medo e volto com medo para casa, mas
quer saber?
Hoje encontrei uma faísca e fiz uma pequena
fogueira dentro de mim, me maquiei como fazia antes de vir para o hospital,
porque já que é para ficar de máscara, vou estar com um delineado “gatinho”,
lembrei que já passei por tanta coisa e nem a fome, o preconceito, situações de
abuso, e a residência de cirurgia cardíaca (residentes entenderão) me
derrubaram.
Coloquei música alta como sempre fazia a caminho
do hospital, uma letra em inglês com palavras tristes, mas um ritmo divertido...
e dancei ... aahhh dancei, dentro do limite de uma direção segura, na minha
cabeça, com o pé que sobrava, com os ombros, com o pescoço, me permiti esquecer
por 15 minutos esse caos, cantei alto!
Permiti buscar aquela esperança que eu tenho
guardada em um cômodo de emergência ... e fui feliz de novo, por 15 minutos, e
repeti: vai passar. Estou maluca? Talvez, posso ser maluca por 15 minutos?
Posso.
Eu sei que está “barra pesada” aí também, então
tente buscar uns minutos de felicidade... dê risada, faça um brigadeiro de panela,
dance desajeitado mesmo... se quiser até te indico uma música. Cuide de você,
cuide dos seus e se possível fique em casa.
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