Lucélia Muniz
Ubuntu Notícias, 12 de abril de 2020
Via Sul 21
“Continuem a luta e
se cuidem como irmãos. Rezo por vocês, rezo com vocês”, expressa o Papa
Francisco em carta destinada às e aos integrantes dos movimentos populares e
organizações sociais de todo o mundo, divulgada neste domingo de Páscoa (12).
Na data em que
milhões de cristãos celebram a Ressurreição de Cristo, o pontífice destina suas
orações àqueles que dedicam suas vidas à transformação social, atuando a partir
de suas comunidades.
“Penso nas pessoas,
sobretudo nas mulheres, que multiplicam o pão nos restaurantes comunitários,
cozinhando com duas cebolas e um pacote de arroz um delicioso refogado para
centenas de crianças; penso nos doentes, penso nos idosos. Nunca aparecem nos
grandes meios de comunicação. Tampouco aparecem os camponeses e agricultores
familiares que seguem lavrando para produzir alimentos saudáveis sem destruir a
natureza, sem monopolizar ou negociar com a necessidade do povo. Quero que
vocês saibam que nosso Pai Celestial olha por vocês, os valoriza, reconhece e
os fortalece em sua escolha”, escreve.
Com
palavras emocionantes, que expressam sua proximidade com os movimentos
populares, recordando encontros ocorridos no Vaticano e em Santa Cruz de la
Sierra, na Bolívia, o Papa Francisco enaltece o trabalho realizado por essas
organizações em meio à pandemia do
novo coronavírus.
“Se
a luta contra a covid-19 é uma guerra, vocês são um verdadeiro exército
invisível lutando nas perigosas trincheiras. Um exército que conta apenas com
as armas da solidariedade, da esperança e do sentido de comunidade que renasce
nestes dias nos quais ninguém se salva sozinho. Vocês são, para mim, como lhes
disse em nossos encontros, verdadeiros poetas sociais que, a partir das periferias
esquecidas, criam soluções dignas para os problemas mais urgentes dos
excluídos”, afirma.
No
documento, ele recorda a situação de vulnerabilidade enfrentada
pela população mais pobre, sem-teto, presos, migrantes, trabalhadores
informais, para os quais, em suas palavras, “as quarentenas se tornam
insuportáveis” por não contarem com garantias legais que os protejam.
Para
o líder da Igreja Católica, a crise desencadeada pela pandemia é uma
oportunidade da humanidade repensar seus padrões de produção e consumo,
orientados pela competição, individualismo e “lucro desmedido para poucos”.
“Quero
que pensemos no projeto de desenvolvimento humano integral que almejamos,
centrado no protagonismo dos Povos em toda a sua diversidade e o acesso
universal a esses três T que vocês defendem: terra, teto e trabalho. Espero que
este momento de perigo nos tire do piloto automático, agite nossas consciências
adormecidas e permita uma transformação humanista e ecológica que coloque fim à
idolatria do dinheiro e coloque a dignidade e a vida no centro”, suplica.
Na
mensagem, o pontífice ainda direciona suas críticas ao mercado e aos
“paradigmas tecnocráticos” que, segundo ele, orientam muitos governos ao redor
do mundo e “não são suficientes para abordar esta crise nem os outros grandes
problemas da humanidade”.
Para
Francisco, neste contexto em que a epidemia traz à tona e acirra as
desigualdades, os movimentos e organizações populares devem ser reconhecidos,
porque são os responsáveis por transformar as crises e privações “em promessa
de vida para suas famílias e comunidades”, com modéstia, dignidade, esforço e
solidariedade.
Devido
às medidas sanitárias recomendadas pela Organização Mundial da Saúde para
combater a propagação da doença, neste domingo (12), as celebrações litúrgicas
do Vaticano serão realizadas sem os fiéis na Praça de São Pedro devido à
pandemia do novo coronavírus.
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