Lucélia
Muniz
Ubuntu
Notícias, 07 de abril de 2020
Deus
Seja Louvado! Aleluia!
Pe.
Vileci – Brasil*
*Em
terras equatorianas , Segunda-feira da Semana Santa em 06 de abril de 2020
Estamos
vivendo um momento de pandemia que nos convida a celebrar a vida com mais
intensidade. Não veremos nestes dias os espetáculos nas celebrações: padres
montados em jumentinho e os fiéis ao lado com os seus ramos. De um modo
diferente, os ramos foram colocados nas portas das casas para lembrar o povo de
Deus no Egito que marcava suas portas com o sangue do cordeiro sacrificado que
era oferecido a Javé para não serem atingidos pelas pragas.
Este
ano não haverá o Lava-Pés como de costume, somos convidados a lavar os pés da
juventude no dia a dia da comunidade, lembrando o episódio do padre que morrera
na Itália, oferecendo sua vida no lugar do jovem que, ao seu lado, também
precisava do aparelho de respiração.
Nossos
jovens precisam entrar na nova dinâmica do tempo que está por vir.
Na
Quinta-Feira Santa não vamos estar juntos, celebrando a Santa Ceia. Mas em
casa, não haverá espaço para questionar se a bolacha posta sobre a mesa é o
Corpo de Cristo. Façamos uma refeição andina*
neste dia.
Em
uma comunidade na serra equatoriana, estes dias, uma mulher colocou na frente
de sua casa uma mesa bem farta e uma placa que dizia: "O que precisar,
pegue; e se tens algo a oferecer, coloque". Assim aprenderemos a
verdadeira lição do Evangelho: "Dai-lhes vós mesmos de comer" (Lc
9,13). Pois, nem a fome e a miséria são permitidas por Deus.
Em
vez de nos perguntarmos por que Deus permite tal coisa? Ele nos questiona,
porque nós permitimos isso. Como os discípulos de outrora, muitas vezes
queremos colocar nas mãos do Senhor, aquilo que Ele colocou nas nossas bem
antes, para resolvermos. De barriga cheia, vivemos exclamando o gesto de
Pilatos: "Seja o que Deus quiser!"
Nesta
semana, lembramos a Parábola do Bom Samaritano e não fingimos de cego. Exemplo
de uma atitude assim tivemos recentemente, com a imprudência e absurda
declaração do presidente da República, ao dizer que "Passar fome no Brasil
é uma grande mentira", sendo que em nosso país milhões de pessoas passam
fome todos os dias, segundo relatório da FAO, órgão especial da ONU para
combate à fome.
A
Sexta-Feira Santa não será uma encenação. O beijo da Cruz acontecerá nos
momentos de quarentena, tendo compaixão pelos irmãos infectados pelo
coronavírus no mundo inteiro. Todas as madrugadas escuto a sirene da ambulância
tocando na direção do hospital do Monte Sinai, bairro onde estou em Guayaquil,
no Equador.
É
Jesus sendo levado para o Calvário. É a crucificação presente em todas as
pessoas vítimas do COVID-19. Muita tristeza! Maria já não pode mais pegar e
colocar o seu filho no colo antes da sepultura.
Como
te cantarei o Aleluia na Vigília Pascal, Senhor, se não estou no meio da minha
comunidade de fé, da minha família, dos meus amigos, das pessoas onde semeei o
amor? Que sinal de ressurreição posso enxergar?
Como
o salmista me pergunto "como haverei de cantar os cantares do Senhor em
terra estrangeira?" (Sl 136,4). Percebo que não estou só, a América Latina
é minha Pátria Mãe. Pelos caminhos da América encontrei Guayaquil e compartilho
com seus filhos os meus dizeres, a esperança de um novo dia.
Estou
certo de que no domingo da Páscoa não veremos padres correndo na nave da Igreja
gritando o Aleluia, dançando ao som de uma música vazia sem a consciência do
Cristo Ressuscitado.
Acredito
que, assim como a economia e a política não será a mesma depois dessa pandemia,
a nossa Igreja terá como sinal de ressurreição uma mudança no seu jeito de
viver a fé: uma Igreja pobre para os pobres, verdadeiramente doméstica como na
sua origem, mais sinodal e menos clerical.
*Andina é o nome dado a região dos países da América do Sul, na
Cordilheira dos Andes
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