Lucélia Muniz
Ubuntu Notícias, 25 de fevereiro de
2020
Por Vinicius Freire Pereira -
Professor de Filosofia e Sociologia da EEM Santa Tereza. Licenciado em História
pela Universidade Regional do Cariri-URCA e especialista em História do Brasil pela
URCA.
O texto que você vai
ler a seguir é de autoria de Vinicius Freire Pereira do Ministério
Nissí do município de Altaneira-CE. O Ministério Nissí, é um
Ministério Interdenominacional e independente criado com o objetivo de
evangelizar e fortalecer os cristãos.
TEXTO
Graça e Paz, estamos vivendo o feriado do carnaval, feriado esse, no
qual tradicionalmente, a Igreja utilizava para realizar retiros, com o intuito
de “fugir” da folia e ficar reservadamente buscando a presença de Deus, afinal
o carnaval é para os evangélicos, uma festa da carne. Mas o carnaval 2020 tem
sido marcado por uma presença massiva dos evangélicos, de formas distintas,
enquanto uns usam a “folia” para evangelizar, outros usam as redes sociais para
se expressarem acerca dos desfiles das escolas de samba, dessa vez, o alvo tem
sido a escola de samba carioca Estação Primeira de Mangueira.
A Mangueira que desfilou no último domingo (23/02), trouxe o tema da
tolerância segundo seus partícipes, através da figura de Jesus Cristo,
retratando o próprio Cristo como uma mulher negra, um jovem apanhando da
polícia e também, crucificado e ressuscitado como um negro. Claro que a
reação dos evangélicos, em sua maioria foi de condenação pela forma como Cristo
fora retratado. Comentários do tipo: “De Deus não se zomba...”, “Isso foi crime
de vilipêndio contra nossa fé!”, “Absurdo!”, foram os mais vistos em sites de
notícias gospel e em perfis de evangélicos no Facebook.
Mas o que esses comentários realmente revelam, é um total
desconhecimento histórico e da realidade social brasileira. Claramente, o
desfile da Mangueira teve como objetivo o protesto ou a crítica social, mas a
maioria dos evangélicos ao que me parece, não conseguem diferenciar uma crítica
social de um claro desrespeito à nossa fé. Como cristão, não me senti ofendido,
pelo contrário, compreendi a crítica feita pela escola e me envergonhei não só
das reações ao desfile, como também, pelo que tenho visto e ouvido dentro de
muitas igrejas.
A meu ver, maior desrespeito ao sacríficio da cruz fazem
aqueles que usam a fé para enriquecimento próprio através da teologia da
prosperidade, pessoas que usam a “fé” em Cristo para subirem degraus rumo ao
poder político, que usam igrejas como palanque e as ovelhas de cristo como
curral eleitoral. Antes de apontar aqueles que não conhecem o evangelho, temos
que tirar a trave do nosso olho primeiro, tomar cuidado com o farisaísmo
existente em nosso meio. Devemos lembrar também que Cristo andava com
pessoas socialmente e religiosamente excluídas, como publicanos, prostitutas,
leprosos, sim Cristo andava com elas e os levava ao arrependimento, a mudar de
vida, mas antes disso Ele as incluía sem distinção.
Acerca do desconhecimento histórico, fica claro, uma vez que boa parte
das críticas se deram ao mostrar Jesus como negro e ao criticarem Jesus Crucificado
como um bandido ferido a balas, sobre isso, temos que desconstruir a imagem que
temos de Cristo como branco de olhos claros, isso foi uma construção do
catolicismo europeu, Jesus viveu em uma região árida, é mais provável que Jesus
fosse negro, do que branco, o que não muda em nada quem Ele é e o que Ele fez
por nós.
Ademais, Jesus foi crucificado, a crucificação era utilizada para punir
bandidos, era a pior forma de punição utilizada pelos romanos, e por isso, Ele
foi crucificado com dois ladrões, Isaías 53: 12 afirma que “...foi contado
entre os transgressores...”, compreendo claro que Jesus não foi um bandido, Ele
é Santo, a própria bíblia afirma que nEle não foi achada nenhuma transgressão,
mas para a sociedade, para os líderes religiosos da época, a mensagem do
evangelho e o próprio Jesus foram considerados perigosos, por isso lutaram
tanto para que Ele fosse crucificado.
Encerro esse texto, parafraseando um colega de trabalho: O Rio de
Janeiro é o Estado brasileiro com o maior número de evangélicos, e mesmo assim,
continua reduto do tráfico de drogas, milícia e de políticos corruptos, o
traficante é evangélico, o miliciano é evangélico, o político corrupto é
evangélico, que evangelho tem sido pregado no Brasil?
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