Lucélia Muniz
Ubuntu Notícias, 18 de setembro de
2019
Crônica de autoria de Antônio Hélio da
Silva – Cadeira 28 na Academia de Letras do Brasil/Seccional Araripe-CE
Talvez o verso com exigência de rimas,
limite no A4, expor emoções tão intensas de uma esperada visita, sonhada até 28
do mês de agosto de 2019. Mês que ordena os ventos a desninharem da grande
serra para acariciar os filhos da gleba querida e seus ilustres visitantes. E
29 chegou com sua madrugada rompida pelo ronco do motor na CE-292. O Jeep,
marca patenteada na 2ª Grande Guerra, estacionou em frente à Igreja Matriz de
Santo Antônio.
A pausa do motor fora necessária, pois
um dos visitados precisava primeiro ver e conduzir o quinteto até a Chácara São
Pedro, no Sítio Lagoa da Mata, Araripe-CE. Às 4:19h, o sonhador avistara os
cinco já pisando em solo do antigo Brejo Seco. Contemplavam a imponência do
monumento principal do lugar. Em metade de um minuto, a utopia tornou-se
realidade. E eu estava a abraçá-los e tecer palavras pretéritas arremessadas
pelo vento àquele instante.
Será que são mágicos os sonhos? Capazes
de concretizar vontades num pestanejar? O afago da brisa matinal brotou em mim
uma enxurrada de recordações. Cronologicamente, iniciou-se do Exu. Via a terra
que originou José Gomes da Silva e Francisca Ermínia da Silva – Genitores da
família que chegava de São José dos Quatro Marcos.
Eu abraçava cada um, lembrando da
minha irmã Chiquinha. Senti a imensidão da sua falta ali, diante da igreja;
para regozijar-se conosco naquela chegada triunfal em Araripe. A Serra
Campestre campeou minha mente lembrando de Papai e mamãe na labuta da
agricultura para extrair da terra suada pelo sol, o alimento para nós – Seus
rebentos.
Araripe culminou em tudo, porque fora
o solo da grande cena das nossas vidas naquela aurora de emoções. A chegada na
lagoa da Mata, mais lembranças do tempo em que papai carpia aquelas terras. E
no “sol a pino”, os pés de mangueiras lhe forneciam sombras para seu repouso na
terra nua inocentada dos perigos a ela causados pelo homem.
Se papai visse seu primeiro neto!? Seu
xodó! Aquele a quem ele perguntara antes de ir embora:
⸻
O que meu netinho vai trazer pra vovô quando vier passear no Ceará?
⸻
Um cigarro, – Respondeu Pedim.
A aurora sessou e o sol chegou. O dia
começou clareando a estrada velha do Crato, acesso de carregamento de água
puxada do cacimbão da Várzea, nos idos de 1960. A região da serrania não
maltratava seus filhos. As terras são boas. A escassez de água é que causava
mal passadio dos seus habitantes. Ah, meus devaneios! São tantos! Quase fui
arrebatado de corpo e alma ao passado.
A prosa casa-se com papel A4 para
gerar confluências de letras e frases em linhas e entre linhas. A saudade de
anos esbarrou nos alpendres punhados de redes. E as conversas das noites ainda
foram poucas para reverter o silencio causado pela distância. O mais novo da
família, Itálo Gael, há de lê esse registro da nossa história.
A telepatia das minhas reminiscências,
que quase me arremessaram ao passado, convergiu com os visitantes e os
conduziram até a terra do filho de Januário e Santana. Dedé confortável de
companhias, se esbaldou nas terras que o gerou. E reviveu suas origens. Seu
povo. Sua gente. Seu lugar...
Lembrando dos maracujás brabos feito
ponches com raspa de rapadura. Dos frutos do mandacaru. Dos passarinhos assados
com farinha seca da Serra da Inveja. Dos mocós. Dos carrinhos de madeira que
ele mesmo carpintava e brincava nos terreiros, recebendo as visitas a felicitar
seu casamento. De Seu Neco e Dona Francelina. Se Seu Pedim e Dona Neném. E de
Chiquinha – O primeiro grande amor da sua vida.
Do Timorante ao Museu do Gonzagão, as
câmeras também registraram Exu para Mato Grosso, outras paragens e para o resto
do mundo virtual. O face Book e o WhatsApp já foram recheados de História e
imagens pelos adoráveis visitantes. Agosto expirou e 3 do 7 rápido chegou. A
pose da despedida foi clicada. E a pista para Juazeiro do Norte os levou de
volta. Por antecipação, a saudade já reinava de nono. A pista foi vencida.
O Horto do Padre Cícero e a Rua São
Pedro foram palcos do acréscimo das bagagens. E o dia 4 do mês da independência
partiu com nosso sangue para bem distante! Para um dia voltar. Os arrecifes de
Recife, os fez admirar o Galo da Madrugada. E a praia. Graças a longa escala.
Vira Copos em Campinas foi justo. Pois Campo Grande os esperava com outro motor
a romper madrugada a dentro. Mais 300 Km de pistas e ventos, até 4 Marcos. Chegaram em 05 de setembro, cheios de
saudades e amores, – Dedé, Pedrinho, Elisangela, Raimundo e Liz.
Excelente crônica, digna de um grande cronista, como assim é o poeta em questão.
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