Lucélia Muniz
Ubuntu Notícias, 10 de março de 2019
“Vaquejada é cultura, é esporte, é fonte
de renda, é a alma do Nordeste. É na vaquejada que me sinto em casa!” Rose
Rosenalva Silva do Nascimento
Alves, conhecida como Rose, 25 anos de idade, nasceu no Sítio Pedra Preta,
Amaro, no município de Assaré-CE. Ela que já residiu em Nova Olinda, atualmente
reside no município de Crato-CE por conta do trabalho.
É desta vaqueira destemida,
guerreira, que preserva uma prática típica do nosso sertão, herdada da própria
família, a história a ser compartilhada com vocês.
Rose é formada em Pedagogia e
também é Professora e teve toda uma motivação especial para começar
profissionalmente nas Vaquejadas. “Venho
de uma família que a vida de gado estava sempre presente! Meu avô foi vaqueiro, passando essa missão de
geração em geração! Minha família por
morar na zona rural, seu transporte era um cavalo, então montar para mim é uma
arte, coisa natural! Um amor que vem desde do berço! Como diz numa frase: “escolhi
ser vaqueira, a vaquejada me escolheu!", disse Rose.
Desde criança, Rose, diz ter
uma paixão por cavalos. Foi com seus
irmãos que esta paixão foi crescendo, pois compartilhava com estes os cavalos
nas vaquejadas. “Sempre acompanhava eles,
torcia, vibrava, sempre participando das festas de apartação”, afirmou.
Por conta do preconceito,
Rose, enfrentou muitos desafios uma vez que muita gente diz que a vaquejada é
esporte para homem. Ela provou que nenhuma postura preconceituosa ou machista
iria para-la. “Não foi fácil decidir correr.
No começo até meus familiares e as pessoas por onde eu passava achavam
estranho: “coisa de homem”, “como você vai em lugares que só tem homem”,
destacou.
Ela me disse que sua paixão
era maior que qualquer preconceito e ainda enfatizou: “LUGAR DE MULHER É ONDE
ELA QUISER”! Junto com seus irmãos, Cícero Gonçalves e Raimundo Silva, esteiras
dela nos bolões pequenos, começou pedindo senhas aos donos das festas, muitas
vezes levando um não. “... não desisti do
que me faz feliz. Tenho certeza que o que eu sinto se resume em uma palavra: AMOR
pela vida de gado. Da vida simples, cheia de dificuldades, buscando fazer o que
me faz bem!", afirmou.
Ela disse que mesmo com as
lutas diárias, busca vencer e se superar. “Comecei
na raça, no que eu via meus irmãos fazendo, digo a eles: “vocês são meus
professores”, lembrou. Foram eles que a ensinaram as técnicas, mas no
começo ia com o que sabia: montar, celar, se equipar para as vaquejadas. Com seus irmãos aprendeu a conduzir o cavalo
até a faixa de forma correta, passar o protetor na luva e derrubar o boi. “São
coisas que só na prática e ensino de quem é mais experiente a gente aprende. SER
VAQUEIRA NÃO TÁ NA MODA, TÁ NO SANGUE!", disse Rose.
Ela garante que o mais
importante é participar e sua primeira corrida como profissional foi em 2017 na
Vaquejada de Farias Brito-CE. Diante dos desafios como o preconceito contra as
mulheres que correm Vaquejada, ela destacou alguns aspectos. “... alguns homens machista e até mulheres
também, vivemos em uma sociedade onde padrões são impostos, para muitas sair desses
padrões se torna difícil. Temos também a falta de espaço que muitos donos de
parques não dão para as mulheres participarem”, frisou.
Ela ainda pontuou algumas
questões como a desvalorização do esporte em muitas cidades, acesso a montaria,
falta de recursos para patrocinar a vaquejada feminina, condições de
transporte, mantimentos, senhas, espaço para treinar. “... muitas desistem por não terem apoiadores e incentivadores. Muitas
vezes não participo das vaquejadas grandes por falta de recursos... Precisamos
de incentivos e oportunidades!", disse Rose.
“VOU LEVANDO MINHA VIDA NO
CANTAR DE UMA TOADA, PARA SEMPRE VOU SEGUINDO COM MINHAS FESTAS DE VAQUEJADA. E
VIVA A LIBERDADE DE ESCOLHA. EU ME CHAMO RESISTÊNCIA!” Rose
Perguntei a ela o que é
marcante quando participa de uma vaquejada e destacou as amizades construídas para
além da competição. “Ainda não sentir a
sensação de ganhar uma vaquejada, mas me sinto campeã todas as vezes que corro,
todas as vezes que entro na pista e saio em direção a faixa, com a voz do locutor
chamando meu nome. Isso não tem dinheiro que pague... são momentos marcantes
que só quem corre sabe explicar”, completou Rose.
Na região do Cariri são poucas as competições
abertas a participação das mulheres ou tropa feminina como chamam. Alguns
parques abrem espaço para a participação feminina em meio a competição
masculina. Eles reservam um horário para a participação das vaqueiras.
As maiores competições
profissionais da região que tem tropa ou categoria feminina são as de Farias
Brito, Assaré, Antonina do Norte, Santana do Cariri, Crato (não é todo ano) e
Juazeiro do Norte. Essas cidades trazem premiação em sua maioria de R$ 500,00 (quinhentos
reais), chegando a até R$ 2.000,00 (dois mil) como no caso de Juazeiro do Norte
onde já virou tradição, se tornando um palco de apresentações na vaquejada.
Pedi que Rose deixasse uma
mensagem para as mulheres que estão começando e assim como ela querem
participar profissionalmente das vaquejadas!
Segue a mensagem deixada por
Rose:
“Primeiramente, não desista dos seus sonhos! Eles são
seus e só você pode torná-los real! Vaquejada como qualquer outro esporte exige
de você amor pelo que faz! Então, se ama a vida de gado, enfrente as dificuldades,
treine muito que assim chegará onde você deseja! Seja humilde se ganhar e mais
humilde ainda se perder! Aprenda com os erros, cair faz parte da competição,
ficar no chão é questão de escolha! Levante, foco em seus objetivos, trace
metas só assim teremos sucesso no que queremos. Fácil não é, mas quando nos
dedicamos e temos fé tudo se torna realidade. Vamos valorizar e dar destaque a
esse esporte de mulheres que esbanja beleza onde só queremos ser feliz e ter a oportunidade
de fazer o que gostamos. Sejamos RESISTENTE. “SONHOS DETERMINAM O QUE VOCÊ
QUER, AÇÃO DETERMINA O QUE VOCÊ CONQUISTA!” Uma frase que carrego sempre comigo:
ELA ACREDITOU QUE PODIA FOI LÁ E FEZ!”
Agradeço a contribuição de
Rose que prontamente aceitou o convite para ceder esta entrevista com uma
história linda e inspiradora! Grata por sua participação!
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