Lucélia Muniz
Ubuntu Notícias, 03 de setembro de 2018
Por Laurentino Gomes*
*Autor
dos livros “1808”, sobre a fuga da família real portuguesa para o Rio de
Janeiro, "1822”, sobre a Independência do Brasil, e "1889",
sobre a Proclamação da República, publicados também
em Portugal. Nascido em Maringá (PR) em 1956, formado em Jornalismo pela
Universidade Federal do Paraná, com pós-graduação em Administração na
Universidade de São Paulo. Membro do Instituto Histórico e Geográfico de São
Paulo e da Academia Paranaense de Letras.
Depois
de uma noite mal dormida, de conexões perdidas numa viagem internacional,
acordo em Lisboa com a notícia da morte, num incêndio pavoroso, do nosso Museu
Nacional. Suas ruínas serão doravante um cartão postal das nossas mazelas.
Abandonado,
desleixado, com um acervo rico, porém esquizofrênico, pouco acolhedor para quem
se animassem a visitá-lo, o Museu Nacional era um símbolo do que nos tornamos
nos últimos anos, uma caricatura do que gostaríamos de ser e nunca fomos.
O prédio histórico, na Quinta da Boa Vista, testemunhou alguns dos
eventos fundadores do Brasil: a chegada da corte, em 1808; a Independência, em
1822; a abdicação de D Pedro I, em 1831; a Proclamação da República, em 1889.
Situado
num palácio imperial, tinha vocação para Museu Histórico, mas virou Museu de
Ciências Naturais. O acervo era confuso e pouco didático, entregue aos maus
cuidados de funcionários e curadores burocráticos, sem inspiração e entusiasmo.
Nunca foi, de fato, um museu bem-amado.
O
Museu Nacional era também um símbolo do toma-lá-dá-cá na história política
brasileira. O prédio original foi um presente de um grande traficante de
escravos, Elias Antonio Lopes, ao príncipe regente D João no dia da chegada da
Corte portuguesa ao Rio de Janeiro, em 1808.
Em
retribuição pelo generoso presente, o negociante de escravos Elias Antonio
Lopes seria um dos homens que mais se enriqueceria e ganharia títulos e
honrarias nos treze anos da corte portuguesa no Brasil.
Duzentos
anos mais tarde, o mesmo toma-lá-dá-cá na política brasileira, que marcava a
história do nosso Museu Nacional, seria também o veneno que o matou, vítima das
negociatas e da irresponsabilidade de seus gestores em Brasília. Como se fosse
um defeito no seu DNA original.
(Na imagem, o
Palácio da Quinta da Boa Vista na época da Independência, em gravura do pintor
Jean Baptiste Debret)
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