Lucélia Muniz
Ubuntu Notícias, 04 de maio de 2018
Por Roseli Brito [Pedagoga - Psicopedagoga - Neuroeducadora e
Coach]
“Quando buscamos recursos, quando avançamos no nosso conhecimento,
podemos ouvir esses pedidos de socorro.”
Se um aluno não estiver alinhado com os demais
da classe no que refere-se ao aprendizado o que o Professor deve fazer? Quais
seriam as causas deste descompasso? “Existem outros, tantos outros como eu?”
Esse verso faz parte de uma das canções que compõem a trilha sonora do filme Como Estrelas na Terra, produção
indiana que narra a trajetória de um menino com dificuldades de aprendizagem e
sua luta para ser compreendido e aceito por professores, colegas e pela própria
família.
Quem trabalha com educação sabe que a sala de aula é um espaço privilegiado para a heterogeneidade. Ainda que as crianças de determinada turma sejam todas da mesma faixa etária e compartilhem gostos e hábitos parecidos, cada uma traz dentro de si um rico universo de singularidades, um convite a inúmeras descobertas.
Ishaan, o garotinho que protagoniza o filme citado, é criativo, observador e tem grande talento artístico. O que todos enxergam, porém, é que ele não consegue ler e escrever, se sai mal em exames, é teimoso e está prestes a ser reprovado, pela segunda vez, no 3º. Ano.
Seus professores reclamam, e a família não sabe como agir. Em nossas salas de aula, quantas e quantas vezes recebemos crianças como Ishaan? Elas parecem deslocadas, não compreendem comandos simples, não aprendem e são alvo de bullying por parte dos colegas. O que fazer diante delas?
Parece óbvio, mas a primeira ação é buscar ouvir a criança. Ishaan dizia que as letras tremiam, mas seus professores o ridicularizavam. Ele cometia sempre os mesmos erros: trocas de letras, espelhamentos, tinha dificuldade de leitura e de coordenação motora. Porém, ninguém, nem mesmo sua família buscou ouvi-lo ou ler nas entrelinhas de seus erros e comportamentos.
Coisa de filme? Infelizmente, não. No Brasil,
uma multidão de crianças, com e sem diagnósticos, convive diariamente com
dificuldades para aprender, o que acaba afetando seus relacionamentos sociais e
minando sua autoconfiança. Nas nossas salas, todos os alunos precisam de
atenção. Sabemos que as dificuldades são muitas, mas se importar ainda é a
principal missão do educador na escola.
O que é se importar? É perceber que o aluno não está conseguindo, é buscar entender os motivos, é descobrir os pontos fortes do estudante acostumado a fracassar e evidenciá-los para toda a turma. Toda estrela tem seu brilho, basta saber enxergá-lo.
Cabe a Escola também a difícil tarefa de orientar a família e indicar a necessidade de ajuda especializada. Mas, acima de tudo, a escola precisa mostrar empatia, entender como é difícil para a família admitir que algo não vai bem com a criança.
Acolher, explicar, dar tempo para que a dor seja elaborada. Escola não deve dar diagnóstico, deve alertar e incentivar, mostrar-se disponível para buscar soluções em parceria.
No filme, Ishaan tinha dislexia. Embora os sinais fossem claros, ninguém notou até que um professor recém-chegado à escola teve sensibilidade para ver e agir. Ele buscou a família e mostrou que, onde parecia haver rebeldia, havia um grande escudo de proteção.
Solicitou à direção flexibilização nas avaliações, decidiu ajudar por duas ou três horas semanais com atividades de reabilitação, procurou dar ênfase às tarefas em que Ishaan poderia brilhar e deixou de enunciar seus fracassos em voz alta para toda a sala.
O final do filme, claro, foi feliz, como pode ser o futuro dos nossos alunos se forem protegidos e acolhidos em suas singularidades, estimulados a crescer em seu ritmo, valorizados por suas qualidades.
Como você reparou, o Professor fez toda a diferença para que o aluno recebesse a ajuda que precisava. O Professor “ouviu” o pedido de socorro do aluno.
Quando buscamos recursos, quando avançamos no nosso conhecimento, podemos ouvir
esses pedidos de socorro. Nossos ouvidos e olhos ficam alinhados para ver além.
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