Lucélia Muniz
Ubuntu Notícias, 11 de março de 2018
Por Priscila Cruz,
fundadora e presidente-executiva do movimento Todos Pela Educação
Desde
que nascemos, vivemos cercados por narrativas sobre nosso lugar no mundo — o que
podemos ou não fazer. Nos últimos anos, felizmente, estamos contestando essas
histórias e substituindo as afirmações pela pergunta: mas será que eu não posso
mesmo?
O
fenômeno é especialmente importante para as mulheres que têm se permitido
experimentar novos ramos de atuação sem as amarras dos estereótipos. Mulheres
que não se limitam a pertencer às atividades que lhes impuseram e que hoje se
destacam nas ciências e nas Exatas.
Essa
ocupação de espaços e funções historicamente masculinos ainda é lento, mas
relevante o suficiente para obrigar o universo do entretenimento e do consumo a
reajustar seus roteiros. Os papéis femininos passaram de assistentes, com
roupas minúsculas, a cientistas que mudaram o rumo da história, como no filme Estrelas Além do Tempo,
longa-metragem indicado ao Oscar de Melhor Filme em 2017 que conta a trajetória
de três matemáticas negras pioneiras na Nasa (Administração Nacional da
Aeronáutica e Espaço).
A
representatividade mostra às meninas que elas podem transitar entre saberes,
que ciência também é para elas. No entanto, isso é apenas parte da batalha. Se
queremos que tais oportunidades se espalhem pelo Brasil, não podemos mais adiar
uma Educação de qualidade e igualitária.
Ainda
que tenhamos avançado no número de estudantes que perseguem carreira nas
ciências e exatas (hoje, elas são 47% dos bolsistas das CNPq em Ciências e
Tecnologia), precisamos impulsionar o preparo das mulheres para esses campos, o
que significa envolver toda a sociedade, família e escola desde a Primeira
Infância. Recalibrar a maneira como socializamos nossos meninos e meninas desde
pequenos faz parte dessa força tarefa; o
modo e sobre o que os elogiamos, por exemplo, já são indícios das
expectativas que depositamos em nossas crianças.
E
se engana quem pensa que esse é um assunto só das mulheres. Diante dos avanços
tecnológicos, o mundo está cada vez mais interconectado e interdisciplinar,
exigindo um grande número de pessoas capazes de criar soluções para problemas
complexos. Muitas são as mulheres que captaram essa mensagem e têm descoberto
como melhorar a vida de todos nós. É o caso da Fernanda Werneck,
ganhadora do prêmio “Para Mulheres na Ciência” 2017, da L’Oréal e da Unesco,
com uma pesquisa sobre o impacto do aquecimento global na vida animal. Outra
história inspiradora é a de Joana D’Arc Felix de Souza,
PhD em química pela universidade de Harvard, que deixou para trás uma história
de privações para hoje acumular 56 prêmios. A Organização Think Olga reuniu em
uma lista as mulheres mais inspiradoras de 2017 na área. Confira.
Não
existem quaisquer estudos que comprovem diferença na capacidade de aprender
entre meninos e meninas; por outro lado, dados da OCDE (Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico) apontam que elas têm menor interesse em
ciências e estudos técnicos devido a estereótipos e sexismos que permeiam a
escola e a família. Para mudar esse quadro, iniciativas ainda na Educação
Básica são o empurrão que muitas delas precisam, projetos como os impulsionados
pelo programa Elas nas Exatas,
uma parceria entre o Fundo Elas, o Instituto Unibanco e a Fundação Carlos
Chagas.
Quanto
mais estimularmos as nossas meninas a se imaginarem como grandes cientistas,
mais tecnologia e ciências aplicadas teremos. Fernandas e Joanas deixarão de
ser exceções.
*Artigo publicado originalmente no UOL
Educação
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