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Lucélia Muniz
Ubuntu Notícias, 10 de janeiro de 2018
Via G1
Apresentadora
e atriz recebeu o prêmio Cecil B. DeMille pelo conjunto da obra. Cerimônia
acontece neste domingo (7).
Foi com um discurso forte e emocionante, no qual falou sobre a força das
mulheres, assédio sexual e racismo, que a atriz e apresentadora Oprah Winfrey
recebeu no domingo (07), um prêmio pelo conjunto da obra no Globo de Ouro 2018.
Ela, que atuou em filmes como "A cor púrpura" (1985),
"Bem-amada" (1998), "O mordomo da Casa Branca" (2013) e
"Selma: Uma luta pela igualdade" (2014), ganhou o troféu Cecil B.
DeMille e demorados aplausos no auditório do Hotel Beverly Hilton, em Los
Angeles.
Em sua fala, Oprah citou que é a primeira mulher negra a ganhar esse
prêmio na cerimônia promovida pela Associação da Imprensa Estrangeira em
Hollywood (HFPA, na sigla original). A atriz e apresentadora citou como
influência o ator Sidney Poitier, primeiro negro a ganhar o Oscar de melhor
ator, pelo filme "Uma voz nas sombras" (1963).
"Eu entrevistei e interpretei pessoas que passaram por algumas das
coisas mais feias que a vida pode jogar em você, mas a qualidade única que
todas elas parecem compartilhar é a habilidade de manter a esperança por uma
manhã mais brilhante, mesmo durante nossas noites mais escuras" disse
Oprah.
Ela acrescentou: "Então, eu quero que todas as garotas assistindo
aqui, agora, que saibam que um novo dia está no horizonte. E que quando este
novo dia finalmente chegar, será por causa de muitas mulheres magníficas, (...)
e algum homens fenomenais, lutando duro para ter certeza de que elas se tornem
as líderes que nos levem a um tempo em que ninguém jamais tenha de dizer 'Eu
também' novamente."
Era uma referência à hashtag "Me Too" (#metoo), que começou
quando a atriz Alyssa Milano incentivou mulheres que já foram
vítimas de abusos a dar seu testemunho no Twitter.
Oprah falou ainda da iniciativa Time's Up, fundo de defesa legal que já arrecadou milhões
para proporcionar apoio legal subsidiado a mulheres e homens que
foram sexualmente assediados, agredidos ou abusados em seu local de trabalho.
Mais de 300 atrizes, roteiristas, diretoras, agentes e outras executivas
da indústria do entretenimento fazem parte do movimento para enfrentar o
assédio sexual generalizado em Hollywood.
A homenageada do Globo Ouro aproveitou a ocasião para fazer uma homenagem
a Recy Taylor, que morreu no último dia 28 de dezembro, aos 97 anos. Em 1944,
Recy, que era negra, foi sequestrada e estuprada por seis homens brancos quando
voltava da igreja, em uma cidade no Alabama, e depois abandonada, de olhos
vendados, na beira de uma estrada. Na época, houve protesto por justiça, mas
não houve condenação pelo crime.
"Ela [Recy] viveu, como muitas de nós vivemos, muito tempo em uma
cultura destroçada por homens brutalmente poderosos. Por muito tempo, as
mulheres não foram ouvidas e foram desacreditadas se elas ousassem falar a
verdade diante do poder daqueles homens. Mas já deu a sua hora." Quem apresentou a homenagem a Oprah Winfrey foi a atriz Reese
Witherspoon, com quem a apresentadora contracenou em "Uma dobra no
tempo".
Leia abaixo o discurso de Oprah na íntegra:
"Em 1964, eu era uma pequena garota sentada no
piso de linóleo da casa da minha mãe em Milwaukee assistindo Anne Bancroft
apresentar o Oscar de Melhor ator na 36ª edição dos Prêmios da Academia.
Ela abriu o envelope e disse cinco palavras que
literalmente fizeram história: 'O vencedor é Sidney Poitier'. Subiu ao palco o
homem mais elegante que eu me lembro. Sua gravata era branca, sua pele era
negra. E ele estava sendo celebrado.
Eu nunca tinha visto um homem negro celebrado
daquela forma. Eu tentei muitas, muitas vezes explicar o que um momento como
aquele significa para uma pequena garota, uma criança assistindo dos assentos
baratos enquanto minha mãe entrou pela porta exausta de limpar as casas de
outras pessoas.
Mas tudo o que posso fazer é citar e dizer que a
explicação está na performance de Sidney em 'Uma voz nas sombras': 'Amém, amém,
amém, amém'.
Em 1982, Sidney recebeu o prêmio Cecil B. DeMille
bem aqui no Globo de Ouro e eu não deixo de perceber, neste momento, há algumas
pequenas garotas assistindo enquanto eu me torno a primeira mulher negra a
receber este prêmio.
É uma honra. É uma honra e um privilégio
compartilhar esta noite com todas ela e também com os homens e mulheres
incríveis que me inspiraram, que me desafiaram, que me mantiveram e que fizeram
minha jornada a este palco possível.
Dennis Swanson, que se arriscou comigo em 'A.M.
Chicago'. Quincy jones, que me viu no show e disse a Steven Spielberg: Sim, ela
é a Sophia de 'A cor púrpura'. Gayle que tem sido a definição do que uma amiga
é. E Stedman, que tem sido a minha rocha. Apenas para nomear alguns.
Quero agradecer a Associação de Imprensa
Estrangeira em Hollywood porque todos nós sabemos que a imprensa está sitiada
nestes dias. Nós também sabemos que é a dedicação insaciável em descobrir a
verdade absoluta que nos impede de nos fingir de cegos em relação à corrupção e
à injustiça, a tiranos e vítimas, e segredos e mentiras.
Quero dizer que eu valorize a imprensa mais do que
nunca antes enquanto tentamos navegar estes tempos complicados, o que me traz a
isto: O que eu sei com certeza é que dizer a verdade é a ferramenta mais
poderosa que temos.
E eu estou especialmente orgulhosa e inspirada por
todas as mulheres que se sentiram fortes o suficiente e empoderadas o
suficiente para denunciarem e compartilharem suas histórias pessoais. Cada uma
de nós nesta sala somos celebradas por causa das histórias que contamos, e este
ano nós nos tornamos a história.
Mas não é apenas uma história afetando a indústria
do entretenimento. É uma que transcende qualquer cultura, geografia, raça,
religião, política ou local de trabalho. Então eu quero esta noite expressar
minha gratidão a todas as mulheres que aguentaram anos de abuso e assédio
porque elas, assim como minha mãe, tinham crianças para alimentar e contas para
pagar e sonhos para seguir.
Elas são as mulheres cujos nomes nunca saberemos.
Elas são as trabalhadoras domésticas e as fazendeiras. Elas estão trabalhando
em fábricas e elas trabalham em restaurantes e elas estão na academia,
engenharia, medicina e ciência.
Elas são parte do mundo da tecnologia e da política
e dos negócios. Elas são nossas atletas nas olimpíadas e elas são nossas
soldados no exército. E há alguém mais. Recy Taylor, um nome que eu
conheço e eu acho que vocês deveriam também. Em 1944, Recy Taylor era uma jovem
esposa e mão voltando para casa depois da missa que ela tinha ido em Abbeville,
Alabama, quando foi sequestrada por seis homens brancos armados, estuprada, e
deixada vendada no canto da estrada da volta da igreja.
Eles ameaçaram matá-la se ela contasse a alguém,
mas sua história foi reportada pela Associação Nacional para o Progresso de
Pessoas de Cor, onde uma jovem trabalhadora chamada Rosa Parks se tornou a
investigadora principal em seu caso e juntas elas buscaram justiça.
Mas justiça não era uma opção na era de Jim Crow.
Os homens que tentaram destruí-la nunca foram processados. Recy Taylor morreu
há dez dias, perto do seu aniversário de 98 anos. Ela [Recy] viveu, como muitas
de nós vivemos, muito tempo em uma cultura destroçada por homens brutalmente
poderosos.
Por muito tempo, as mulheres não foram ouvidas e
foram desacreditadas se ousassem falar a verdade diante do poder daqueles
homens. Mas já deu a sua hora. Já deu a sua hora. Já deu
a hora. E eu espero que Recy Taylor tenha morrido sabendo a verdade dela, assim
como a verdade de muitas outras mulheres que foram atormentadas naqueles anos,
e até agora são atormentadas, continua a marcha.
Estava em algum lugar no coração de Rosa Parks
quase 11 anos depois, quando ela tomou a decisão de ficar sentadas naquele
ônibus em Montgomery, e está aqui com cada mulher que escolher dizer: 'Eu
também'. E com cada homem, cada homem que escolhe ouvir.
Em minha carreira, eu sempre dei meu melhor para,
seja na televisão ou através de filmes, falar algo sobre como homens e mulheres
realmente se comportam. Falar como nós vivemos vergonha, como nós amamos e como
nos enfurecemos, como nós falhamos, como nos recolhemos, perseveramos e como
nós nos superamos.
Eu entrevistei e interpretei pessoas que passaram
por algumas das coisas mais feias que a vida pode jogar em você, mas a
qualidade única que todas elas parecem compartilhar é a habilidade de manter a
esperança por uma manhã mais brilhante, mesmo durante nossas noites mais
escuras.
Então, eu quero que todas as garotas assistindo
aqui, agora, que saibam que um novo dia está no horizonte. E que quando este
novo dia finalmente chegar, será por causa de muitas mulheres magníficas,
muitas delas aqui nesta sala esta noite, e algum homens fenomenais, lutando
duro para ter certeza de que elas se tornem as líderes que nos levem a um tempo
em que ninguém jamais tenha de dizer 'Eu também' novamente."
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