28/11/2017

Como a violência doméstica atinge as mulheres no Nordeste

por Beatriz Drague Ramos — publicado em 28/11/2017
Via Carta Capital

Estudo mostra impactos da violência de gênero em capitais nordestinas. Com 19,7%, Salvador ostenta o pior índice
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Os números fazem parte do ciclo de pesquisas Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. O último estudo, divulgado na quinta 23, baseou-se no depoimento de 10 mil mulheres, com idade entre 15 e 49 anos, moradoras das capitais Aracaju, Fortaleza, João Pessoa, Maceió, Natal, Recife, Salvador, São Luís e Teresina.

Realizado pela Universidade Federal do Ceará (UFC) em parceria com o Instituto Maria da Penha e o Institute for Advanced Study in Toulouse, o estudo também mostrou que quatro em cada 10 mulheres crescidas em um lar violento acabam sofrendo a mesma violência na fase adulta, fenômeno definido pelos pesquisadores como "transmissão inter-geracional de violência doméstica". Ao mesmo tempo, 40% dos parceiros que cometem agressões também residiram em lares violentos. 

O relatório, lançado em Brasília durante um evento promovido pela ONU Mulheres, também revela que 23% das nordestinas possuem lembranças da mãe sendo agredida e 13% têm conhecimento de que a mãe do parceiro também sofreu algum tipo de agressão.

A pesquisa aponta uma taxa de 19,7%, na prevalência de violência doméstica física em Salvador, seguido de Natal, com 19,3%. Fortaleza tem o posto de terceira capital nordestina com maior taxa desta violência, com um índice de 18,9%. 

De um ano para cá, 11% das mulheres nordestinas foram vítimas de violência psicológica, 5% sofreram agressões físicas e 2% violência sexual em ambiente doméstico e familiar.

A violência doméstica no Nordeste também tem cor. Uma em cada cinco entrevistadas brancas afirmou ter presenciado episódios de violência doméstica contra a mãe. Já entre as mulheres negras a taxa é maior: uma em cada quatro já presenciou o mesmo ocorrido.  Além disso, dois terços das vítimas de agressão física na gravidez eram pretas ou pardas. 

Segundo o pesquisador e analista de políticas públicas do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), Victor Hugo Oliveira, o Nordeste é mais desassistido do que as regiões Sul e Sudeste no que tange às políticas para mulheres

As capitais Natal, Salvador, Recife e Fortaleza apresentam maiores taxas que a média dos demais estados nesta triste estatística. A capital do Rio Grande do Norte registra o maior nível de violência contra grávidas: 12%, o triplo do verificado em Aracajú, capital com a menor taxa de prevalência desta violência (4,3%).

A incidência de violência durante a gestação é 10 vezes maior sobre mulheres com pouco grau de instrução. Além disso, negras e pardas representam 77,4% dessas mulheres que sofreram agressão durante a gravidez. Mais de 4 mil mulheres responderam as questões relativas à experiência de violência na gestação.

Pesquisa aponta que os impactos da violência doméstica sobre a mulher gestante são diversos. Vão do sangramento vaginal, ganho de peso, hipertensão e depressão até chegar em casos mais graves, como o abortamento e a morte materna.

Para a criança que sobrevive à violência intrauterina, há elevada chance de nascimento com baixo peso e/ou prematuridade, importantes preditores da mortalidade neonatal, isto é, até 28 dias após o nascimento.

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