“Heroína da Castidade”
Benigna Cardoso da Silva, nascida
no Sítio Oiti - Santana do Cariri-CE, no dia 15 de outubro de 1928, filha de
José Cardoso da Silva e Thereza Maria da Silva, ficou órfã de pai e mãe muito
cedo, sendo adotada juntamente com seus irmãos mais velhos pela família
“Sisnando Leite”, proprietária do Oiti dos Cirineus, no distrito de Inhumas.
Sua infância foi cercada pela
alegria das inocentes brincadeiras com cantigas de roda, bonecas, casinha,
piqueniques, passeios etc., ao lado de suas irmãs de criação Tetê e Irani, que
ainda vivem. Benigna gostava muito de uma cantiga de roda que dizia mais ou
menos assim: “Carneirinho, carneirão, neirão, neirão, olhai pro céu, olhai pro
céu, pro céu, pro céu, para ver Nosso Senhor, Senhor, Senhor, e todos se
ajoelharem...”
Era uma jovem muito simples e
cheia de humildade. De estatura média, Benigna era magra, de cabelos e olhos
castanhos meio ondulados, morena clara, rosto arredondado e queixo afinado. Tinha
um leve estrabismo em um dos olhos.
Modesta por natureza, tímida,
reservada e meditativa, não usava vestidos sem mangas, curtos nem com decotes.
Sua generosidade, carisma e simpatia a fazia querida e cativada por familiares,
amigos e conhecidos, tornando-se um modelo de juventude para época. Em casa,
desenvolvia bem todas as tarefas domésticas, com intuito de ajudar sua família
adotiva. Era boa filha, sempre obediente e prestativa.
Extremamente religiosa e temente
a Deus, nutria um grande desejo de fazer a Primeira Eucaristia, e depois desse
sonho realizado, seguia à risca os mandamentos divinos. Não perdia as missas e
fazia penitência nas primeiras sextas-feiras em devoção ao Sagrado Coração de
Jesus, sempre na companhia de sua “madrinha Ozinha” e da “Tia Bezinha.” Era
assídua na participação eucarística.
Aos 12 anos de idade, já lendo e
escrevendo, Benigna começou a ser assediada por um rapaz chamado Raul Alves com
propostas de namoro, rejeitadas de forma categórica por ela, que nada queria
com ele a esse respeito. Procurou imediatamente o Pe. Cristiano Coêlho, vigário
da época, para pedir conselhos sobre o assunto da perseguição de Raul, e este
lhe aconselhou a vir estudar em Santana do Cariri – CE, e a presenteou com uma
Bíblia, que tornou-se seu livro de cabeceira, guardado com esmero e carinho.
Encantava-se com as gravuras e as histórias do Antigo e do Novo Testamento.
Neste Livro Sagrado ela encontrou apoio para resistir às tentações de Raul e
fortalecer cada vez mais sua fé.
A caminho da escola, se mostrava
sempre uma defensora da natureza, não deixando que seus colegas maltratassem as
plantinhas nem tirassem suas flores ou galhos. Na sala de aula, era uma aluna
exemplar; por demais estudiosa, cuidadosa, pontual e colaboradora. Sempre
gostava de ajudar seus colegas para não vê-los punidos com a palmatória ou de
joelhos nos caroços de milho, fato que a deixava demasiadamente triste, e às
vezes até chorava com os castigos aplicados aos outros.
Depois de várias tentativas sem
sucesso, numa tarde fatídica de sexta-feira, dia 24 de outubro de 1941, sabendo
que Benigna ia pegar água numa cacimba próxima à sua casa, ficou Raul à
espreita atrás do mato, observando-a com o pote na cabeça, com seus recém completados
13 anos. Ao aproximar-se, abordou-a sexualmente. Ela recusou, ele insistiu
tentando violentá-la. Ela disse “não” com veemência e lutou heroicamente para
se defender do ato pecaminoso, que no seu entender cristão ofenderia seu corpo.
Raul, ao perceber que Benigna
nada aceitaria com o mesmo, foi tomado por um ódio feroz; sacou de um facão
atroz e a golpeou cortando-lhe os dedos da mão. Ela relutou de forma
sobre-humana contra seu algoz, preferindo morrer a pecar contra a castidade.
Depois disso, foi atingida na testa, nas costas e por fim no pescoço, cujo
golpe deixou-lhe a cabeça quase decepada. Ao vê-la morta, com o corpo estendido
sobre as pedras e o sangue inocente se esvaindo pelo chão, Raul foge, sendo o
corpo da vítima encontrado logo em seguida já sem vida.
Seu corpo foi sepultado na manhã
do sábado, no Cemitério Público São Miguel, em Santana do Cariri-CE,
acompanhado de comoção geral. Os requintes de crueldade do bárbaro crime abalou
todo o Município. Desde essa data, começaram as visitas ao túmulo e ao local do
martírio até o tempo presente. As rogativas feitas à “Santa de Inhumas”, assim
como as promessas são geradoras de graças alcançadas por intercessão dessa
memorável jovem, que é tida por todos como “santa” e “Heroína da Castidade”.
O assassino foi preso, pagou pelo
seu crime e, arrependido, voltou ao local 50 anos depois para chorar, elevar
preces e pedir perdão a Benigna. Neste retorno, relatou sua mudança de vida,
sua conversão ao cristianismo. Fez penitências para salvar sua alma, e pedindo
a intercessão de Benigna, alcançou graças sempre recorrendo à sua inocente
vítima, a quem sempre rogava nas horas de aflição. Segundo ele, seu ato foi de
loucura e “ela se mostrou virtuosa, quando resistiu para não pecar e não apenas
para ver se escaparia.”
Sobre Benigna o Padre Cristiano
deixou escrito, na época, ao lado do seu batistério: ”Morreu martirizada, às 4
horas da tarde, no dia 24 de outubro de 1941, no sitio Oiti. Heroína da
Castidade, que sua santa alma converta a freguesia e sirva de proteção às
crianças e às famílias da Paróquia. São os votos que faço à nossa santinha.”
RAIMUNDO SANDRO CIDRÃO
"Historiador"
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