por Carlos Zarattini* — publicado 18 de julho no site Carta Capital
O governo Temer desprotege
justamente os mais vulneráveis e revela sua face mais desumana ao intensificar
a crise social
Temer já excluiu 1,1 milhão de famílias da rede de proteção do
Bolsa Família
Três anos
depois de o Brasil sair do mapa mundial da fome da ONU — o que significa ter
menos de 5% da população sem se alimentar o suficiente —, o velho fantasma
volta a assombrar as famílias brasileiras não só no Nordeste e Norte,
mas em todo o País. É um resultado desastroso da política cruel adotada pelo
governo ilegítimo Michel Temer.
Cortes em
programas e políticas de proteção social têm sido a regra de Temer,
que optou claramente por cortar benefícios e reduzir, drasticamente, as
subvenções dos programas sociais. Esse jeito de governar revela que o
golpe é contra os mais pobres, contra o trabalhador. E, infelizmente, a
fome é a parte mais visível e cruel deste "Novo Brasil" que eles
estão construindo.
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Quando a
presidenta legítima Dilma Rousseff foi afastada pelo golpe parlamentar,
13,8 milhões de famílias estavam recebendo os benefícios do Programa Bolsa Família.
Nas mãos dos golpistas, o Bolsa Família está despencando: o número de famílias
atendidas caiu para 13,2 milhões em junho de 2017 e chega a julho com 12,7
milhões, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social.
O golpe já
excluiu 1,1 milhão de famílias da rede de proteção. Isto representa 4,3 milhões
de pessoas, a maioria crianças (em média cada família tem 3,6 membros). Em meio
à crise econômica, consequência da política econômica desastrosa dos golpistas,
o governo Temer desprotege justamente os mais vulneráveis. Revelando assim a
sua face mais desumana ao intensificar a crise social.
A exclusão
de famílias do Bolsa Família, iniciada ano passado, e a redução dos valores
investidos no Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA),
que compra do pequeno agricultor e distribui a hospitais, escolas públicas e
presídios, são uma vergonha para um país que trilhava avanços sociais que o
colocava como referência em todo o mundo.
Segundo
publicou o jornal "O Globo", no norte de Minas Gerais, por exemplo, o
corte feito pelo governo federal no repasse de alimentos ao Quilombo Gurutuba,
via PPA, vem colocando em risco a alimentação das sete mil famílias que lá
vivem. E isso significa que essas pessoas estão voltando a sofrer com a fome.
Os números
do orçamento da União são pedagógicos e esclarecem como e por que estamos
voltando ao mapa da fome. De janeiro a junho de 2016 foram pagos R$ 43 milhões
para aquisição de alimentos; no mesmo período em 2017 foram somente R$ 5
milhões de reais.
O governo
Temer disse que estava reduzindo o Bolsa porque não havia mais famílias na fila
de espera: outra mentira dos golpistas. O desemprego alcançou o índice mais
alto da história, com mais de 14 milhões de desempregados.
Como não esperar o aumento na procura do Bolsa Família? Com o desemprego,
milhares de famílias perderam renda.
O povo bate
à porta das redes de assistência social. Atualmente, 550 mil famílias estão na
fila, esperando para receber o cartão. Na expectativa de que o benefício
garanta comida e possa espantar o fantasma da fome. É só andar pelas
ruas das médias e grandes cidades e se percebe que a pobreza voltou a crescer.
Há um mês, o
governo golpista disse que usaria o saldo da redução de famílias para dar o
reajuste de 4,6% no Bolsa Família, mas não cumpriu a promessa. Congelou os
valores do benefício. E corre solto na Esplanada que a “sobra” está sendo usada
para pagar as emendas parlamentares em troca de barrar a denúncia por corrupção
contra Temer.
O Brasil, de
Lula e Dilma, realizou uma revolução silenciosa, em pouco mais de uma década,
ao sair da condição de País conhecido internacionalmente pelo alto índice de
pobreza para o País que, de forma pacífica, conseguiu reduzir radicalmente a
miséria. Quem diz isto não é o PT, não sou eu, mas o Programa das Nações Unidas
para Desenvolvimento (Pnud).
Por exemplo,
enquanto o mundo conseguiu reduzir a pobreza extrema pela metade, para 22%, em
2012 – o Brasil, no mesmo período, erradicou a fome e fez com que a população
extremamente pobre do País caísse para menos de um sétimo do registrado em 1990
(de 25,5% para 3,5% em 2012). Uma vitória dos governos do PT e do povo mais
pobre.
Mas hoje a
realidade é que o fantasma da fome volta a rondar. Com o governo Temer,
corremos o risco de ser o país que mais rapidamente voltou ao mapa da
fome. A única saída para barrar esse triste retrocesso e também
acabar com a crise econômica e política é a convocação, ainda em
2017, de eleições diretas. Precisamos retomar a estabilidade política e
democrática no Brasil e construir um governo sério, legítimo e comprometido com
questões sociais.
(*) Deputado federal (PT-SP) e líder do
partido na Câmara.
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