Por Erick
Morais Morais em 11 de maio de 2017
Na escola, nós aprendemos que a
filosofia é a mãe de todas as ciências. Aprendemos sobre a importância da
filosofia na formação do pensar humano em todas as vertentes, desde das
questões sobre o homem e o universo, até discussões acerca do amor e da
política. Dada a sua importância, deveríamos ter uma educação com viés
filosófico. Ou seja, uma educação que buscasse desenvolver em nós um olhar
crítico para o mundo que nos cerca e o nosso mundo interior. Entretanto, o que
recebemos de forma contrária, é uma educação acrítica e completamente
tecnicista, que tem como função primordial criar soldados bem treinados para o
famoso “mercado de trabalho” ou em uma tradução livre – “campo de batalha do
capitalismo selvagem”.
A polêmica reforma no ensino
médio promovida recentemente pelo Governo Temer, para muitos – professores, inclusive
– é de se temer, com o perdão do trocadilho. Uma mudança tão significativa na
sociedade (já que a educação é ou pelo menos deveria ser vista como o principal
vetor de transformação social) deveria passar por uma discussão mais profunda,
com ampla participação dos principais interessados, estudantes e professores. O
que não ocorreu em momento algum, mesmo sob fortes protestos dos excluídos da
sua própria pauta, levando-nos, até mesmo, a pensar na nossa fragilidade
democrática.
Mas o fato é que ela foi aprovada
e está apta para entrar em prática. E, é bom que se diga, a educação de fato
precisava de mudanças, transformações. Digo mais, não só no ensino médio, mas
na educação como um todo. No entanto, essa reforma vai tornar a educação melhor
em que sentido? No sentido filosófico ou tecnicista?
Não há problema em preparar os
jovens para o mercado de trabalho, mas uma educação transformadora, vai muito
além disso. Dessa maneira, por mais que a reforma no ensino médio torne a
educação mais eficaz na preparação técnica dos jovens, sobretudo, por haver uma
divisão do trabalho, digo, estudo em áreas do conhecimento específicas; ela
apagará totalmente a brasa da esperança de uma educação crítica. Isso ocorrerá
porque não há como pensar filosoficamente sem que todas as áreas do
conhecimento possuam a mesma importância e valorização, sem
interdisciplinaridade (a base no Enem), sem a provocação para o aluno e que a
partir disso o levará ao aprofundamento de certa área ou certo saber que mais
lhe apraz e o faz se sentir vivo enquanto sujeito individual e coletivo.
Ao subjugar alguns saberes, como
filosofia, sociologia e história, mas não apenas estes, a um patamar de
inferioridade em relação à língua portuguesa e inglês, por exemplo, a mensagem
que o governo passa é de que o importante é saber fazer alguma coisa, isto é,
aprender os “comos”, deixando de lados os “porquês”. Isso me lembra o mundo
distópico de Fahrenheit 451 de Ray Bradbury, em que os livros e todo o
pensamento crítico e poético incutido neles são queimados, a fim de haja a
manutenção da ordem em uma sociedade tecnicista em que fazer perguntas é coisa
de gente “maluca”.
Sendo assim, perdemos mais uma
oportunidade de promover modificações realmente significativas na educação
brasileira. E não adianta dizer que perguntas não ajudam ninguém a arrumar um
trabalho, já que isso é uma constatação óbvia, afinal, o que o mercado quer são
profissionais excelentes na arte de obedecer, sem jamais questionar. Mas o que
você, caro ser “pensante”, não consegue perceber é quão necessárias são as
perguntas para que se questione todas as problemáticas existentes na sociedade
e, assim, se consiga combater os males na origem, ao invés de ficar comprando
verdades como mentiras, como dizia Orwell.
Certa feita foi dito no cinema
por um professor que palavras e ideias podem mudar o mundo. Bom, eu acredito
nisso e, portanto, acredito em uma educação filosófica, em que todos os saberes
e todas as ciências sejam importantes e utilizados na formação de mais do que
estudantes, de indivíduos capazes de se perceberem enquanto agentes sociais
imprescindíveis para que o mundo continue em uma rota evolutiva. Apesar disso,
muitos continuarão acreditando que o que precisamos mesmo é de mais soldados
capazes de manter o campo de batalha intacto, protegido e sem ataques. Assim,
só me restam as palavras de Símon Bolívar, duras e mais do que nunca,
verdadeiras, já que: “Um povo
ignorante é o instrumento cego da sua própria destruição. ”
Fonte: Revista Pazes
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