O professor Nicolau Neto, especialista em Docência do Ensino Superior
pela Faculdade Católica do Cariri (FCC), graduado em História pela Universidade
Regional do Cariri (URCA) e ativista das causas negras com atuação pelo Grupo
de Valorização Negra do Cariri (Grunec), esteve na tarde da última sexta-feira
(25/11) utilizando o plenário da Câmara Municipal de Altaneira.
No ensejo, falou sobre a simbologia do Dia Nacional da Consciência Negra
e de diversos temas correlacionados ao dia, como por exemplo, o racismo, a
intolerância religiosa, a representatividade (ou a falta dela) negra nos
espaços de poder e das desigualdades social e racial oriundos deles. Para
tanto, trouxe dados do IBGE apontando que mais da metade da população no Brasil
(53%) é negra.
Fora do continente africano, disse Nicolau, o Brasil é o país mais negro
do mundo. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA),
jovens de pela negra possuem quatro vezes mais chances de morrer do que um
branco. Afirmou ainda que foi esse mesmo instituto o revelador de um dado
alarmante - as mulheres negras ocupando as mesmas funções de brancos e brancas
ainda recebem os menores salários.
A educação também mereceu destaque. Aqui, a chance de um negro ser
alfabetizado é cinco vezes menor do que um branco. No nível superior a
realidade é praticamente a mesma. Somente uma a cada quatro pessoas formadas é
negra. Sem contar os inúmeros casos de discriminação e racismo que crianças e
jovens de pela negra sofrem todos os dias nas salas de aulas. Muitos inclusive
abandonam as escolas por não serem capazes de superar esse câncer que assola o
país desde da invasão dos portugueses, ponderou o professor.
Fora dos ambientes de ensino, disse aos vereadores e vereadoras, as
pessoas negras que estão em situações de extrema pobreza representam mais de
70%, ao passo que 80% dos ricos nesse país é representado por pessoas brancas.
Nessa realidade tão desumana ao qual negros e negras estão submetidos, não
podia esquecer de convidar os parlamentares para refletir sobre outros dados
que de igual modo incomoda o movimento negro, mas que a elite política, a mídia
e grande parte da sociedade tem fechado os olhos.
Mais da metade da população que precisa do SUS é negra e se percebe
todos os dias o sucateamento da saúde, inclusive com sérias ameaças de piorar
se a PEC 55 for aprovada. O professor ainda mencionou que a cor da pele no
Brasil é referência para ocupar cargos públicos e tem determinado o tempo de
vida, fundamentando essa assertiva ao apresentar o Mapa da Violência deste ano
decorrente de um estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do IPEA.
Através deste mapa verifica-se que em 10 anos os homicídios de mulheres
negras aumentaram 62%. Se somar os gêneros, a cada 12 minutos um(a) negro(a) é
assassinado no Brasil. Mereceu registro ainda o fato de que a grande maioria
das pessoas que estão nas delegacias ser de pela negra (75%) e que não somos
representados nos espaços de poder na medida em que somos apenas 15% dos
juízes; 30% no senado; 20% na câmara federal e não temos nenhuma representação
de ministros no STF. Estas foram algumas estatísticas elucidadas pelo professor
Nicolau.
O ministério do atual governo é composto por homens brancos. Poucas
foram às conquistas, mas as que conquistamos são provenientes de muita luta e
reivindicação dos movimentos negros e demais pessoas, como as leis de cotas em
concursos públicos e universidades - mas que precisa ser ampliada para outros
municípios e universidades, inclusive para a URCA - o Estatuto da Igualdade
Racial e as Leis 10.639/03 e 11.645/08 que obriga o estudo da cultura africana
e afro-brasileira e da cultura indígena, nas escolas, respectivamente.
Por último, convidou os edis a pensar e refletir sobre o teste do
pescoço, ficando os agradecimentos pelo espaço concedido e as intervenções
feitas e ressaltou que a luta tem que ser diária. “Lutemos até que nossas vozes sejam ouvidas e levadas em consideração.
Lutemos até que tenhamos a história africana e afro-brasileira nos livros
didáticos contada pelo viés negro. Lutemos até que não haja mais racismo.
Lutemos e resistiremos até que tenhamos igualdade de oportunidade nos espaços
de poder, afinal não há democracia racial e a miscigenação para nós é vista
como um perigo e uma fonte inesgotável para mascarar o racismo”, disse o
ativista.
O professor e ativista Nicolau Neto também é administrador do Portal de
Comunicação – Negro Nicolau.
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