As
brasileiras e os brasileiros, independente de onde vivem ou que características
sócio-culturais carregam, são vistos/as pelos conglomerados de mídia como
indivíduos manipuláveis. Isso quer dizer que os conteúdos elaborados e
veiculados pelos meios de comunicação são lançados à população com o objetivo
de formar a chamada opinião “pública”. Uma opinião que estará, portanto, de
acordo com os interesses econômicos e políticos de menos de uma dúzia de grupos
e empresas de comunicação que dominam a mídia no Brasil.
Não há
exemplo maior disso do que a observação da situação política do país de 2013
pra cá. Vamos lembrar que em junho de 2013, nossa programação televisiva sofreu
uma brusca alteração diária para nos contar que havia iniciado em São Paulo uma
revolução popular protagonizada pela juventude estudantil e que ganhava as ruas
de todo o país. Transmissões ao vivo durante horas, coberturas em todos os estados,
análises e longas reportagens nos noticiários fez com que a pauta logo virasse
o principal assunto do momento também nas redes sociais, no rádio, no impresso.
Naquele
momento a mídia começou a agendar no país o golpe institucional, jurídico,
misógino e midiático concretizado este ano com o impeachment da Presidenta
Dilma Rousseff. As empresas de comunicação, especialmente a Rede Globo, se
aproveitaram do levante de alguns grupos com pouca ou nenhuma politização e
instauraram um sentimento de “acordamos para as injustiças sociais”, mas não
qualquer injustiça, a ideia era se revoltar contra os crimes de corrupção
atribuídos ao governo do Partido dos Trabalhadores (PT). Aparentemente sem
liderança, o movimento ganhou corpo e conquistou até mesmo alguns setores
organizados da sociedade, a exemplo de alguns movimentos sociais. Quando
agradava a mídia, ou seja, atacava o governo, era considerado movimento. Em
outros casos, eram divulgadas como baderna, vandalismo.
A onda de
manifestações de rua foi aos poucos sendo controlada, mas nesses três anos só
triplicaram as investidas diárias da mídia que está 24 horas por dia na casa de
quase 200,4 milhões de pessoas, com seus conteúdos empacotados e destinados à
chamada massa homogênea, aquela que apenas consome as informações sem
questioná-las, como defendem algumas teorias da comunicação. O agendamento da
opinião “pública” então foi se dando por ciclos. Em cada fato novo que a
Operação Lava a Jato apresentava, ainda que este fosse o mais insignificante,
com a força midiática, passava a fazer parte do café, do almoço, do lanche e da
janta da população em quer que fosse a região do país.
É importante
a gente se dá conta, contudo, de que a opinião “pública” é forjada não apenas
pelo agendamento de pautas de interesses dos meios de comunicação, mas também
pelo silenciamento de outras. Mais uma vez observamos a postura da mídia e
constatamos suas intenções. Em outubro de 2016, a cena se repete e grande parte
da juventude do Brasil está mobilizada, só que agora de forma mais inteligente,
organizada, não tão fortemente nas ruas, mas ocupando locais como escolas e
universidades. A mídia está silenciando esses acontecimentos políticos que
congrega debates, que tem rumo, lideranças, objetivo e consciência política, ao
contrário de 2013.
Esta é uma
realidade enxergada por uma pequena parcela da população. É importante
reconhecer e lamentar que o Estado brasileiro perdeu a oportunidade de avançar
na pauta da democratização da Comunicação quando, em 2009, diversos setores da
sociedade – atendendo a convocação do Governo Lula – realizaram a I Conferência
Nacional de Comunicação. Primeira e única até hoje no Brasil, a Conferência,
após discussões nos estados, aprovou 600 propostas que, se implementadas, o
país daria um salto no que diz respeito à democratização da comunicação.
Infelizmente, o PT não será lembrado como o partido que conseguiu mexer na
consolidada estrutura midiática existente no Brasil e a mesma segue com ares de
primeiro poder e não quarto como se costuma dizer. O PT, salvo as devidas
críticas ao partido e seus governos, tem sido vítima da própria inoperância
quanto a Reforma da Mídia que nem chegou a propor.
Em meio a
esse cenário quase irreparável e contrariando a lógica do agendamento poderoso
dos poucos grupos de comunicação que dominam a informação no Brasil, há uma
resistência. Considerando a comunicação como um direito humano e compreendendo
a ausência da democracia na mídia, temos a mídia livre, popular, vista como uma
alternativa ao modelo dominante. Com a expansão da internet, este campo
cresceu, especialmente com a comunicação viral das redes sociais e a
proliferação dos blog’s, rádios web’s, canais no youtube, etc.
A
necessidade de pautar as realidades locais, a diversidade, fazer o contraponto
e denunciar as atrocidades da “grande” mídia, é o que mantém os canais de
comunicação que se negam a comungar com a forma de fazer comunicação imposta
pelos conglomerados de mídia. Trata-se de uma atitude subversiva, uma vez que
ser mídia livre no Brasil é nadar contra corrente, é confrontar o poder
político e econômico das elites brasileiras, elites estas que também controlam
o Senado, a Câmara dos Deputados, as Assembleias Legislativas dos estados e
municípios. Nesse sentido, ser mídia livre (manter um blog ou site, uma página
no facebook, uma rádio ou Tv de fato comunitária, um jornal, um canal no
youtube, etc) é ir de encontro ainda aos interesses das empresas nacionais e
multinacionais que não estão nem um pouco preocupadas com os direitos da
população.
O
midialivrismo é visto como uma afronta. Mas é nesse tom que precisamos seguir.
Precisamos afrontar ainda mais, tendo a mídia livre e a educomunicação como
ponto de partida e de chegada e moldar assim uma nova sociedade, um novo
paradigma, o paradigma da comunicação libertária.
Érica Daiane
Costa
Colaboradora do IRPAA (Instituto
Regional da Pequena Agropecuária Apropriada) e Professora.
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