O ser humano é maior que a guerra
(Do diário do livro)
A história das guerras
costuma ser contada sob o ponto de vista masculino: soldados e generais,
algozes e libertadores. Trata-se, porém, de um equívoco e de uma injustiça. Se
em muitos conflitos as mulheres ficaram na retaguarda, em outros estiveram na
linha de frente.
É esse capítulo de bravura
feminina que Svetlana Aleksiévitch reconstrói neste livro absolutamente
apaixonante e forte. Quase um milhão de mulheres lutaram no Exército Vermelho
durante a Segunda Guerra Mundial, mas a sua história nunca foi contada.
Svetlana Aleksiévitch deixa que as vozes dessas mulheres ressoem de forma
angustiante e arrebatadora, em memórias que evocam frio, fome, violência sexual
e a sombra onipresente da morte.
Recortes do livro
“Tudo o que sabemos da
guerra conhecemos por uma “voz masculina”. Somos todos prisioneiros de
representações e sensações “masculinas” da guerra. Das palavras “masculinas”.
Já as mulheres estão caladas.”
“Os
relatos femininos são outros e falam de outras coisas. A guerra “feminina” tem
suas próprias cores, cheiros, sua iluminação e seu espaço sentimental. Suas próprias
palavras. Nela, não há heróis nem façanhas incríveis, há apenas pessoas
ocupadas com uma tarefa desumanamente humana. E ali não sofrem apenas elas (as
pessoas!), mas também a terra, os pássaros, as árvores. Todos os que vivem
conosco na terra. Sofrem sem palavras, o que é ainda mais terrível.”
“Um
mundo inteiro foi escondido de nós. A guerra delas permaneceu desconhecida... Quero
escrever a história dessa guerra. A história das mulheres.”
“O
ser humano é maior do que a guerra... A memória guarda justamente os momentos
em que ele foi maior. Ali, ele é guiado por algo mais forte do que a história.
Preciso pegar o que é mais amplo — escrever a verdade sobre a vida e a morte em
geral, e não só a verdade sobre a guerra.”
“Não
estou escrevendo sobre a guerra, mas sobre o ser humano na guerra. Não estou
escrevendo a história de uma guerra, mas a história dos sentimentos. Sou uma
historiadora da alma.”
“E
a história? Ela está na rua. Na multidão. Acredito que em cada um de nós há um
pedacinho da história.”
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