Maria de Fátima Silva deixa
Nova Olinda e no Estado da Paraíba concretiza um sonho – a graduação em Serviço
Social
Maria
de Fátima Silva, novolindense, colou grau em Serviço Social no dia 25 de julho pela
Faculdade Internacional da Paraíba-FPB/Universidade da Rede Laureate no Brasil.
Iniciou seus estudos no ano de 2012 e a colação de grau aconteceu este ano.
Então,
a convidei para ceder uma entrevista ao meu Blog contando um pouco desta
trajetória.
Vamos
a entrevista!
Lucélia
Muniz - Quais os principais desafios enfrentados por você ao sair de Nova
Olinda para fazer sua graduação em outro estado?
Maria de Fátima - Sair de
casa e deixar minha mãe, irmãs, irmãos, sobrinhos e sobrinhas e me adaptar em
uma cidade tão grande como é João Pessoa se comparada a Nova Olinda. O segundo
desafio foi vencer a mim mesma, pois tinha
medo de começar a estudar aqui, de ser rejeitada por ser do interior. Em
janeiro de 2012 comecei a fazer cursinho na Academia Epitácio Pessoa-ACEP e
depois da experiência de seis meses de cursinho eu percebi que já estava pronta
para entrar na faculdade. O terceiro desafio
foi ter que trabalhar o dia todo e estudar a noite, às vezes saia do
trabalho direto pra faculdade. Foram quatro anos de renúncia. Esses foram os
principais desafios, os outros eu tirava de letra, pois eles foram menores que
o meu sonho de ser Assistente Social. E quanto ao medo de não dar certo, medo
de não conseguir terminar a faculdade, fingia que tinha coragem e enfrentava
assim mesmo... até porque eu não era a primeira pessoa que trabalhava, estagiava
e estudava ao mesmo tempo! Quando pensava em desistir lembrava que o que eu
sabia era pouco e seria uma frustação não terminar a faculdade. Eu tinha um
objetivo - concluir a universidade! Foi um compromisso que assumi comigo mesma,
decidi me dedicar ao meu curso e conclui-lo era uma questão de honra.
Lucélia
Muniz - Qual a principal função da profissão de quem se forma em Serviço
Social?
Maria de
Fátima - Atuar nas multifacetas das expressões da questão social, a proposta do
curso de serviço social é centrar-se na formação do assistente social
competente em sua área de exercício profissional, generalista em sua formação
intelectual e cultural, com domínio de um conjunto de informações, as quais
devem ser mediatizadas pelas dimensões técnico-científica e ético-política da
profissão. Assim, permitindo-lhe pensar e adotar ações criativas e inovadoras
no campo das políticas sociais públicas e privadas. A atuação dos profissionais
do serviço social dever ser pautada nos valores da democracia, da liberdade e da
cidadania. Ter clareza dos direitos de cada cidadão e trabalhar conforme os
princípios éticos da profissão, defendendo os direitos e a emancipação da
população. Ainda contribuir por meio de sua atuação para a construção de uma
sociedade mais justa, igualitária e menos excludente. Creio que não exista uma
função principal, todas as nossas funções são importantes não importa a nossa área
de atuação. É meu dever enquanto profissional, trabalhar com dedicação,
respeito, ética e me sobrepor a precarização do trabalho e contribuir para a
defesa intransigente dos direitos humanos, sociais e a liberdade dos cidadãos.
Lucélia
Muniz - Em quais ambientes da sua área de atuação você fez estágio e qual o
aprendizado advindo destas experiências?
Maria de Fátima - Eu
estagiei apenas na saúde, no complexo Hospitalar
Governador Tarcísio Burity, complexo hospitalar de emergência e urgência,
clínica cirúrgica e psiquiátrica no município de João Pessoa. Além da atenção
específica aos casos de traumato-ortopedia, em situações de urgência e
eletivas. A priori eu pretendia estagiar na assistência social não na política
de saúde, mas infelizmente eu não consegui conciliar com o meu trabalho, pois
eu só tinha o sábado e o domingo disponível para o estágio. Já que eu
trabalhava o dia todo e a noite eu estava na faculdade, então por necessidade
eu passei a estagiar em regime de plantão de 12 horas aos sábados e aos domingos
das 7 horas às 19 horas. Só na saúde tinha
horário disponível nos fins de semana, nesse caso acabei indo para o hospital.
Nos primeiros dias de estágio, confesso que me deu vontade de sair do hospital
correndo, pois as cenas eram lamentáveis... eu estava vendo de perto a
realidade da saúde pública, um hospital superlotado e os usuários que chegavam
constantemente em busca de atendimento ficavam em macas espalhadas pelos
corredores do hospital, pois os leitos não cabiam mais ninguém. Dias depois já amava
muito meu estágio na saúde, foi uma experiência ímpar passar um ano estagiando
lá. Eu percebi como foi importante toda a teoria aprendida em sala de aula,
percebi que não é possível compreender a realidade sem teoria, aprendi como ser
assistente social, aprendi também como eu não deveria ser como profissional. Aprendi
que todo o caos da saúde era só mais um
obstáculo a ser ultrapassado, tinha que ser forte e ao mesmo tempo humana,
apesar de tanto cansaço físico e mental tinha consciência que muita gente
necessitava de acolhimento! Era meu dever como estagiária ser ética e bem
informada para fazer os devidos encaminhamentos e passar as orientações devidas
aos usuários da política pública de saúde. Aprendi que a precarização
do trabalho do assistente na saúde e a precarização da saúde não poderia
engessar minha atuação naquela instituição, nem lá e nem em outro setor que eu
vá trabalhar. Sempre que podia eu participava
dos fóruns estaduais da assistência social, cursos, palestras promovidos pela
Secretaria Estadual e Desenvolvimento Humano-SEDH. Estagiava na saúde mais o
meu Trabalho de Conclusão de Curso-TCC foi escrito na assistência social na
proteção social básica, nos Centro de Referência de Assistência Social-CRAS. Foi
uma análise do serviço de convivência e fortalecimento de vínculos familiares e
comunitário. Ouvi muito que escrever na assistência seria uma loucura porque
era mais fácil eu continuar com o que eu já tinha feito na saúde... continuar
com o projeto de intervenção, a contextualização da política seria mais
simples, porém se fosse para o campo da assistência social eu teria que começar
do zero e isso seria muito difícil. Mesmo assim, escrevi na assistência social até
porque o fácil todo mundo já faz, graças a Deus a minha orientadora Gilvaneide
Nunes me ajudou e contribuiu bastante na construção do TCC, foi extremamente
dedicada.
Lucélia
Muniz - O que pretende fazer a partir de agora já com seu diploma de conclusão
em mãos?
Maria de Fátima - Pretendo
estudar mais, fazer pós-graduação, mestrado e quem sabe até o doutorado. Estou
apenas na metade do que quero para minha vida. Pretendo trabalhar na minha área
e vou atuar na política de assistência social, na proteção social básica, média
e de alta complexidade, na educação, na saúde e quem sabe até na docência, seja
aqui em João Pessoa-PB ou no Ceará.
Lucélia
Muniz - Deixe uma mensagem de incentivo para alunos concludentes do Ensino
Médio que irão ingressar numa faculdade para fazerem uma graduação.
Maria de Fátima - Não
desistam de vocês, estudem e estudem muito, bem sei que a educação pública
brasileira ainda é precária, mas isso não é motivo para não se dedicar aos
estudos! Nós só aprendemos em sala de aula apenas 50% e os outros 50% cabe
apenas a nós como alunos/as buscar aprender! A nossa formação está além das
paredes da sala de aula, pois nem sempre um professor consegue passar todo conteúdo
necessário, seja pela precarização do trabalho, a sobrecarga de trabalho e por
muitas vezes os alunos não contribuírem para que isso aconteça. A educação é
primordial na nossa vida! Não sou altruísta, mas sinto profundamente quando
alguém sabe apenas assinar o nome, sinto mais ainda quando não sabem ler.
Quando eu terminei o ensino médio eu passei 4 anos sem estudar, isso foi muito
ruim... sentia um vazio muito grande, sabia que tinha estacionado e isso não
era bom... daí resolvi voltar a estudar e isso foi a melhor coisa que já fiz na
minha vida. Minha mãe teve 10 filhos eu sou a 8ª e apenas eu fiz faculdade. Algumas
de minhas irmãs mal conseguem fazer o nome, outras nem isso. Eu queria fazer a
diferença, queria romper com o que está posto que aluno de escola pública não
chega a faculdade, que filho de agricultores não chega a faculdade, que filhos de
pais analfabetos não chega a faculdade. Amem a leitura, leiam o máximo que puderem,
aprendam a ser críticos, a serem politizados, façam a diferença! A educação
liberta e é a única forma de alcançarmos a emancipação humana. Ouso em dizer
que a educação é a salvação do Brasil, a educação é primordial!
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