07/11/2015

A visão do negro no livro didático de português (recortes do Artigo)

A sociedade brasileira começa, mesmo que timidamente, a despertar e a construir uma consciência em relação à opressão racial. Porém, o que ainda é possível perceber é que esse despertar necessita avançar muito no combate a essa discriminação presente na sociedade. O ambiente escolar, uma das instâncias sociais formadoras de ideologia, está repleto de uma cruel realidade em que as diferenças étnico–culturais não são respeitadas, difundindo preconceitos e práticas racistas por todo o país.

É possível perceber essas marcas por meio de pequenos comentários de alunos negros em sala de aula, julgamentos de inferioridade ou incapacidade com uma forte presença de baixa autoestima. Esse aluno certamente assimila a desvalorização do negro presente no livro didático, através dos papéis que lhe são atribuídos, como por exemplo, o negro ser sempre o causador de confusões, ser o rebelde, ou até mesmo aparecer como a criança suja da história; além de toda essa imagem deturpada, ainda pode-se perceber que a mulher negra aparece sempre na cozinha ou como serviçal, nunca como a patroa, isso apenas para dar ideia do que se encontra nos livros didáticos atuais.

(...) as pessoas necessitam ser educadas para respeitar umas às outras com suas diferenças; é preciso começar a mudar, e nada melhor do que iniciar por aquele que exerce papel fundamental de difusor do conhecimento no cotidiano escolar: o livro didático.

O livro didático deveria, conforme Rangel (2001, p.13), “contribuir efetivamente para a consecução dos objetivos do ensino de língua materna, tais como vêm definidos em documentos oficiais, como os PCNs - Parâmetros Curriculares Nacionais, assim é necessário que ele abstenha–se de preconceitos discriminatórios e, mais do que isso, seja capaz de combater a discriminação sempre que oportuno”, isto é, estimular a cidadania, produzir efeitos contra qualquer forma de preconceitos e discriminações no contexto escolar ou fora dele.

No entanto, de acordo com Silva (1995, p. 47), “O livro didático, de modo geral, omite o processo histórico–cultural, o cotidiano e as experiências dos segmentos subalternos da sociedade, como o índio, o negro, a mulher, entre outros.

(...) o termo etnia é considerado o mais adequado a ser trabalhado no contexto escolar pela dimensão cultural que engloba, não somente as características físicas de um grupo, mas também a sua identidade cultural.

De acordo com os PCNs, (BRASIL, 2000 p.59) ao “repudiar toda discriminação de raça/etnia, classe social, crença e sexo”, é possível ensinar aos alunos o desenvolvimento de atitudes de empatia para com aqueles que sofrem qualquer tipo de preconceito.

O ambiente escolar deveria favorecer a valorização da “pluralidade cultural” que consiste nos diferentes grupos sociais que convivem em nosso país. O mito de que o Brasil possui uma democracia racial apenas impede os grupos étnicos de conquistar o respeito e o espaço necessários na sociedade. 

Na realidade, cabe ao professor mostrar ao aluno o preconceito e a discriminação marcados pelos autores dos livros. Esta postura, além de despertar o senso crítico no aluno, desenvolve uma série de estratégias de leitura eficazes na formação do aluno leitor.

Embora o Ministério da Educação e Cultura tenha tomado iniciativas para melhorar o controle dos livros didáticos a serem distribuídos para as escolas públicas, com o objetivo de evitar a distribuição de obras que contenham representações negativas em relação ao segmento negro, ainda não se encontra com facilidade livros didáticos que abordem a colaboração desta etnia na construção do país, incluindo aspectos positivos da história do negro no Brasil.

Dessa forma, aprender a fazer uso de uma prática educacional que valoriza a diversidade cultural e seja atenta a qualquer forma de discriminação, progredindo nas discussões a respeito das diferenças raciais, é o começo da formação de uma democracia racial que até então só existe no papel e se manifesta altamente discriminatória nos atuais livros didáticos brasileiros de língua materna.

Para finalizar, retomam-se as palavras do líder Martin Luther King: “Aprendemos a voar como os pássaros, e a nadar como os peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos”, percebendo-se a necessidade de aprender a conviver com as diferenças, uma vez que só assim é possível promover uma educação comprometida com a valorização do ser humano ao alcance de todos.

Professor do Programa de Pós-Graduação em Letras. Coordenador do Grupo de Pesquisa "Interação e escrita no ensino e aprendizagem." Pesquisador em leitura e produção textual.

Graduada em Letras e Especialista em Produção de Textos e Literatura Brasileira pela Universidade Paranaense - UNIPAR, Umuarama - Paraná.

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