A sociedade brasileira começa, mesmo que
timidamente, a despertar e a construir uma consciência em relação à opressão
racial. Porém, o que ainda é possível perceber é que esse despertar necessita
avançar muito no combate a essa discriminação presente na sociedade. O ambiente
escolar, uma das instâncias sociais formadoras de ideologia, está repleto de
uma cruel realidade em que as diferenças étnico–culturais não são respeitadas,
difundindo preconceitos e práticas racistas por todo o país.
É possível perceber essas marcas por meio de
pequenos comentários de alunos negros em sala de aula, julgamentos de
inferioridade ou incapacidade com uma forte presença de baixa autoestima. Esse
aluno certamente assimila a desvalorização do negro presente no livro didático,
através dos papéis que lhe são atribuídos, como por exemplo, o negro ser sempre
o causador de confusões, ser o rebelde, ou até mesmo aparecer como a criança
suja da história; além de toda essa imagem deturpada, ainda pode-se perceber
que a mulher negra aparece sempre na cozinha ou como serviçal, nunca como a
patroa, isso apenas para dar ideia do que se encontra nos livros didáticos atuais.
(...) as pessoas necessitam ser educadas para
respeitar umas às outras com suas diferenças; é preciso começar a mudar, e nada
melhor do que iniciar por aquele que exerce papel fundamental de difusor do
conhecimento no cotidiano escolar: o livro didático.
O livro didático deveria, conforme Rangel (2001,
p.13), “contribuir efetivamente para a consecução dos objetivos do ensino de
língua materna, tais como vêm definidos em documentos oficiais, como os PCNs -
Parâmetros Curriculares Nacionais, assim é necessário que ele abstenha–se de
preconceitos discriminatórios e, mais do que isso, seja capaz de combater a
discriminação sempre que oportuno”, isto é, estimular a cidadania, produzir
efeitos contra qualquer forma de preconceitos e discriminações no contexto escolar
ou fora dele.
No entanto, de acordo com Silva (1995, p.
47), “O livro didático, de modo geral, omite o processo histórico–cultural, o
cotidiano e as experiências dos segmentos subalternos da sociedade, como o
índio, o negro, a mulher, entre outros.
(...) o termo etnia é considerado o mais
adequado a ser trabalhado no contexto escolar pela dimensão cultural que
engloba, não somente as características físicas de um grupo, mas também a sua
identidade cultural.
De acordo com os PCNs, (BRASIL, 2000 p.59) ao
“repudiar toda discriminação de raça/etnia, classe social, crença e sexo”, é
possível ensinar aos alunos o desenvolvimento de atitudes de empatia para com
aqueles que sofrem qualquer tipo de preconceito.
O ambiente escolar deveria favorecer a
valorização da “pluralidade cultural” que consiste nos diferentes grupos
sociais que convivem em nosso país. O mito de que o Brasil possui uma
democracia racial apenas impede os grupos étnicos de conquistar o respeito e o
espaço necessários na sociedade.
Na realidade, cabe ao professor mostrar ao
aluno o preconceito e a discriminação marcados pelos autores dos livros. Esta
postura, além de despertar o senso crítico no aluno, desenvolve uma série de
estratégias de leitura eficazes na formação do aluno leitor.
Embora o Ministério da Educação e Cultura
tenha tomado iniciativas para melhorar o controle dos livros didáticos a serem
distribuídos para as escolas públicas, com o objetivo de evitar a distribuição
de obras que contenham representações negativas em relação ao segmento negro,
ainda não se encontra com facilidade livros didáticos que abordem a colaboração
desta etnia na construção do país, incluindo aspectos positivos da história do
negro no Brasil.
Dessa forma, aprender a fazer uso de uma
prática educacional que valoriza a diversidade cultural e seja atenta a
qualquer forma de discriminação, progredindo nas discussões a respeito das
diferenças raciais, é o começo da formação de uma democracia racial que até
então só existe no papel e se manifesta altamente discriminatória nos atuais
livros didáticos brasileiros de língua materna.
Para finalizar, retomam-se as palavras do
líder Martin Luther King: “Aprendemos a voar como os pássaros, e a nadar
como os peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos”, percebendo-se a
necessidade de aprender a conviver com as diferenças, uma vez que só assim é
possível promover uma educação comprometida com a valorização do ser humano ao
alcance de todos.
Professor do Programa de Pós-Graduação em Letras.
Coordenador do Grupo de Pesquisa "Interação e escrita no ensino e
aprendizagem." Pesquisador
em leitura e produção textual.
Graduada em Letras e Especialista em Produção de Textos e Literatura
Brasileira pela Universidade Paranaense - UNIPAR, Umuarama - Paraná.
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