Recortes do Artigo
Em nível de
ações de ciência e tecnologia, entendemos que uma sociedade que se baseia na informação,
no conhecimento e no aprendizado, necessita criar as condições adequadas, a fim
de que cidadãos/ãs brancos/as e cidadãos/as negros/as tenham acesso a uma
educação científica de qualidade.
Sem dúvida,
os avanços da sociedade da informação rumo à sociedade do conhecimento e
aprendizado estão imbricados no tripé ciência, tecnologia e inovação, sendo que
essa relação, envolvendo conhecimento científico e tecnológico, precisaria estar
na agenda política do atual governo como um fator prioritário
e estratégico, a fim de que possamos construir uma sociedade inclusiva e
multicultural.
É importante
ressaltar que o Nordeste é um dos mais caracterizados pela exclusão de expressivas
camadas da população e, de modo específico, das populações de origem africana e
afrodescendente.
São condicionantes
para o desenvolvimento científico e tecnológico do país a formação de profissionais
qualificados em número suficiente e seu aproveitamento adequado, além do
aumento do conhecimento científico e do interesse pela ciência e tecnologia
entre a população em geral e, em
particular, entre os jovens.
Se a
educação é que define a sociedade da informação que teremos, questionamos: Que educação?
Que escola? Que conteúdo?
É preciso
que brancos(as) e negros(as) pobres saibam o que os cientistas (escritores,
literatos, advogados e engenheiros) negros já fizeram e sobre a importância
que o Brasil já conquistou entre as nações produtoras de conhecimento
multicultural.
Sobre a proposta
de criação de um museu virtual que funcione como um centro de difusor da
história cultural de africanos e afrodescendentes, utilizando as TICs como meio
de disseminação do conhecimento:
Na proposta
de criação, o museu virtual deverá assumir o caráter permanente de centro de
difusão e popularização da ciência para alunos/as das camadas populares,
utilizando tecnologias abertas e ampliando a base de pesquisa para o
desenvolvimento de competência na coleta, na armazenagem, no processamento e na
disponibilização de imagens sobre artefatos africanos e afrodescendentes em
diferentes formatos, e acessíveis via Internet.
Este
trabalho é parte do projeto de pesquisa “A hora e a vez da afrodescendência: a
criação do museu virtual de imagens da cultura afrodescendente e africana nos
estados da Paraíba e Ceará”, em andamento, na Universidade Federal da Paraíba.
Tal projeto propõe a criação de um museu virtual de imagens da cultura africana
e afrodescendente como um centro de difusão e popularização da ciência na educação informal,
a partir do uso das tecnologias da informação e comunicação (TICs) em consonância
com as ações do grupo de pesquisa Informação, Cidadania e Memória.
A criação do
museu virtual propõe viabilizar a construção de um currículo que contemple a diversidade
étnico-racial, visando a tornar os conteúdos de ensino mais interessantes e
próximos das realidades dos estudantes da Paraíba, adotando-se uma prática de
valorização do patrimônio material das culturas africana e afrodescendente, nas
suas diferentes formas de manifestação, na perspectiva de ampliar o acesso à
escola e a construção de um currículo que torne positiva a presença da
população negra em todas as atividades da vida humana, incluindo-se a ciência,
a educação e a cultura e suas inovações.
Suas ações
sinalizam também para a criação de uma rede de comunicação, interação e
aprendizagem por meio da Web, cujo interesse central seja a história e a
cultura da afrodescendência brasileira, construindo, coletivamente,
conhecimentos e veiculando, socialmente, novas representações que valorizem a
história e a cultura negra como parte essencial e indispensável à constituição
da identidade nacional brasileira.
É importante
considerar que na atual sociedade da informação rumo à sociedade do
conhecimento, em que a informação assume um papel estratégico, o combate à
discriminação e ao racismo está na pauta da agenda política do Movimento Social
Negro (Coordenação de Entidades Negras), Movimento Negro Unificado (MNU) e
Coordenação Nacional de Remanescentes de Quilombos, dentre outros campos de
ação.
Os negros/as
têm se empenhado em uma ação fundamental na desmistificação da democracia
racial e na elaboração de propostas de políticas públicas que contribuam para a
alteração do quadro de exclusão, de desigualdade e opressão, não apenas racial,
mas também de gênero, destacando-se o protagonismo das mulheres negras no
processo organizativo, desde o período da escravidão (BRASIL, 2005), trazendo
para a cena política um conjunto de questionamentos que se estendem desde a
discriminação de gênero e raça, incluindo os efeitos perversos para sua
educação, saúde e política de informação.
A educação para
o século XXI suscita novos conteúdos, novas metodologias, novas leituras da
ciência e das imagens, requerendo da escola o compromisso de transmitir uma
educação científica compatível com a sociedade multicultural com a qual se depara
em seu cotidiano.
O desafio de
promover a inclusão das populações africana e afrodescendente na sociedade da informação
e do conhecimento, certamente, não compete apenas ao poder público. Além de
resultar de uma luta histórica dos movimentos étnico-culturais, essa demanda
reclama de toda a sociedade o compromisso com ações que ampliem os mecanismos públicos
e privados de inclusão social, tidos como essenciais à superação do
analfabetismo funcional e digital no país.
(...) o
museu terá o objetivo de colaborar com a ampliação do conhecimento científico e
tecnológico da população em geral, estimular a curiosidade, a criatividade e a
capacidade de inovação dos jovens, bem como valorizar o potencial de
resistência da cultura afrobrasileira e, ao mesmo tempo, fomentar o domínio e a
recriação de ferramentas importantes do patrimônio cultural e universal da
humanidade.
FONTE: Inclusão Social, Brasília, v. 2, n. 1, p. 18-29, out.
2006/mar. 2007
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