(...) a identidade negra não surge da tomada de consciência de uma
diferença de pigmentação ou de uma diferença biológica entre populações negras
e brancas e/ou negras e amarelas.
(...) um dos objetivos fundamentais da negritude era a afirmação e
a reabilitação da identidade cultural, da personalidade própria dos povos
negros.
Dificuldades que os afro-descendentes encontram para canalizar
politicamente sua identidade cultural
Apesar das diferenças dos contextos históricos e geográficos,
cheguei à conclusão de que tanto a negritude no contexto africano como o ideal
do branqueamento no contexto brasileiro, tinham um denominador comum: eram
ambos resultados de um racismo universalista, que quis assimilar os africanos e
seus descendentes brasileiros numa cultura considerada como superior.
A elaboração de uma identidade empresta seus materiais da
história, da geografia, da biologia, das estruturas de produção e reprodução,
da memória coletiva e dos fantasmas pessoais, dos aparelhos do poder, das
revelações religiosas e das categorias culturais.
O conceito de identidade evoca sempre os conceitos de diversidade,
isto é, de cidadania, raça, etnia, gênero, sexo, etc... com os quais ele mantem
relações ora dialéticas, ora excludentes, conceitos esses também envolvidos no
processo de construção de uma educação democrática.
Todos nós, homens e mulheres somos feitos de diversidade. Esta,
embora esconda também a semelhança, é geralmente traduzida em diferenças de
raças, de culturas, de classe, de sexo ou de gênero, de religião, de idade, etc.
(...) o encontro das identidades contrastadas engendra tensões,
contradições e conflitos que, geralmente, prejudicam o processo de construção
de uma verdadeira cidadania, da qual depende também a construção de um Estado
Democrático, no sentido de um Estado de direito no qual os sujeitos têm a
garantia de seus direitos.
(...) a falta de reconhecimento da identidade não apenas revela o
esquecimento do respeito normalmente devido. Ela pode infligir uma ferida cruel
ao oprimir suas vítimas de um ódio de si paralisante. O reconhecimento não é
apenas uma cortesia que se faz à uma pessoa: é uma necessidade humana vital
(Taylor, Charles, Op.Cit.).
Qualquer que seja sua forma, o multiculturalismo está relacionado
com a política das diferenças e com o surgimento das lutas sociais contra as
sociedades racistas, sexistas e classistas.
(...) a discussão sobre o multiculturalismo deve levar em conta os
temas da identidade racial e da diversidade cultural para a formação da
cidadania como pedagogia anti-racista (Ver a respeito Tores, Carlos Alberto:
2001).
(...) as relações entre democracia, cidadania e educação não podem
ser tratadas sem considerar o multiculturalismo.
(...) a cidadania enfrente a complexidade das nações capitalistas
contemporâneas, sitiadas pela globalização da economia, da cultura e da política
– assim como importantes desafios da teoria social contemporâneos. (Torres,
Carlos Alberto: 2001: 122-123).
O racismo é tão profundamente radicada no tecido social e na
cultura de nossa sociedade que todo repensar da cidadania precisa incorporar os
desafios sistemáticos à prática do racismo. Neste sentido, a discussão sobre os
direitos sociais ou coletivos no sistema legal e por extensão no sistema
escolar é importantíssima.
O que será a democracia no século XXI, caracterizado pela
globalização? Será possível construir uma cidadania democrática num mundo
globalizado que, por sua tendência homogeneizadora é ameaçadora da diversidade
e das identidades particulares?
De acordo com Peter MacLaren, “a questão central que se coloca
para as educadoras é desenvolver um currículo e uma pedagogia multicultural que
se preocupem com a especificidade da diferença (em termos de raça, classe,
gênero, etnia, orientação sexual, etc.) (MacLaren, Peter: 1999:70-71).
Prof. Kabengele MUNANGA
Departamento de Antropologia
– USP
Curso - História
Afro e Indígena Cearenses
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