Da mídia social para
telefones celulares até tecnologias que podem ser vestidas junto ao corpo, a
conectividade digital impulsiona a vida diária. Com a utilização generalizada
das tecnologias de informação e comunicação, tendemos a ignorar o assustador
abismo digital global. Na era digital, muitas das liberdades básicas e dos
direitos humanos fundamentais estão intrinsecamente ligados ao direito ao
acesso digital. Como resultado, as Nações Unidas declararam o acesso à Internet
um direito humano básico (KRAVETS, 2013), devido à sua capacidade de fornecer
acesso à informação, possibilitar a liberdade de expressão, permitir que os
cidadãos participem do processo político de seu país e por permitir-lhes
participar ativamente da vida cultural de suas comunidades.
E, no entanto, apenas 39% da
população mundial tem acesso à Internet. Setenta e cincos por cento dos
europeus estão on-line, enquanto apenas 16% dos africanos têm acesso à Internet
(INTERNATIONAL TELECOMMUNICATION UNION, 2013).
O abismo digital também
atravessa países desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento, devido ao acesso
limitado à tecnologia e aos baixos índices de alfabetização. Apenas 37% das
mulheres no mundo estão on-line, contra 41% dos homens. Por conta de normas
culturais locais em relação às mulheres, taxas de alfabetização e desigualdades
de gênero, existe também uma diferença de gênero significativa no tocante ao
acesso, mesmo quando as tecnologias digitais estão disponíveis na região.
Conforme aponta Clara Vaz (2014), consultora de direitos da mulher, parte do
desafio é a distribuição de informação com base em gênero. Os homens criam a
maior parte do conteúdo on-line. Por exemplo, na enciclopédia open source
Wikipedia, apenas 16% dos editores são mulheres – e elas contribuem com apenas
9% das mudanças de inserções na Wikipedia (LAM; UDUWAGE; et al., 2011); uma vez
que a Wikipedia depende de voluntários para adicionar conteúdo, isso tem sérias
implicações. Muitas vezes, as informações relativas à violência contra as
mulheres estão ausentes ou imprecisas. Durante uma conferência de programadores
de computador (hackathon) organizada pela Breakthrough em dezembro de 2013, um
grupo de ativistas e jornalistas identificou e editou um conjunto de
inserções-chave na Wikipedia que havia deixado de fora informações importantes
sobre a violência sexual contra as mulheres, como um artigo sobre as diretrizes
a respeito de assédio sexual no local de trabalho na Índia e um artigo
explicando o julgamento histórico de um caso de estupro.
A censura do governo e a
política corporativa também limitam o acesso digital. Afinal, a censura do
governo significa que as pessoas em todo o mundo não experimentam e acessam a
Internet e as ferramentas digitais na mesma medida (MACKINNON de 2014). Em
alguns casos, os governos nacionais e as grandes corporações controlam a
maneira com que certas populações usam a Internet, resultando em desigualdade
na liberdade de acesso à informação. Para operar em certos países, empresas
como o Google têm que exercer autocensura e limitar algumas das informações
acessíveis aos seus usuários.
Mallika Dutt e Nadia Rasul. Conscientização digital: uma análise das
oportunidades e dos riscos enfrentados pelos ativistas de Direitos Humanos na
Era Digital. SUR. Revista Internacional de Direitos Humanos. Rede Universitária de
Direitos Humanos. v. 1, n. 1, jan. 2004. São Paulo, 2004.
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