Para
estudarmos a epidemiologia do uso de drogas no Brasil, precisamos
primeiramente entender o que é epidemiologia. Diferentemente da sua
formulação original, histórica, a epidemiologia não estuda apenas
as grandes epidemias.
Epidemiologia,
em seu sentido amplo, é a ciência que estuda a frequência e os
fatores relacionados à ocorrência de agravos, doenças e/ou
comportamentos relacionados à saúde da população.
Assim,
falar em epidemiologia do uso de drogas não significa
necessariamente que exista uma epidemia desse comportamento no
Brasil, significa que estamos interessados em entender como esse
fenômeno acontece, qual é a distribuição dele no espaço e como
as suas possíveis alterações ocorrem ao longo do tempo.
Nesse
tipo de estudo, as pessoas não são entrevistadas diretamente. Os
dados são coletados a partir de informaçõesjá existentes, como o
número de: internações hospitalares por dependência de drogas,
atendimentos em serviços de saúde de emergência por overdose,
apreensões de drogas feitas pela Polícia Federal, prisões por
tráfico, etc.
Os
levantamentos e indicadores epidemiológicos são importantes, pois
traçam um diagnóstico da situação do consumo de droga no país e
permitem que as políticas públicas sejam desenvolvidas e/ou
reformuladas, baseadas em evidências científicas atualizadas.
Assim, o
monitoramento
dessas informações faz-se necessário, visto que essa é
uma
questão dinâmica; ou seja, além de novas drogas surgirem com o
passar do tempo, o consumo de drogas também é modulado por questões
socioculturais, pelas políticas referentes ao seu controle e pela
atuação dos órgãos de segurança pública.
Os
dados epidemiológicos disponíveis no Brasil ainda são escassos e
insuficientes para responder de forma satisfatória a grande parte
das perguntas relativas a um tema complexo e polêmico como o consumo
de drogas; todavia, novos estudos têm sido desenvolvidos, à medida
que os governantes e os formuladores de políticas públicas passam a
entender a importância de se ter em mãos tais informações.
Os
levantamentos epidemiológicos sobre o consumo de drogas entre
estudantes
dos Ensinos Fundamental e Médio constituem o painel de
dados
mais amplo e sistemático sobre o tema de que dispomos no Brasil, com
estudos realizados em 1987, 1989, 1993, 1997, 2004 e 2010. O
levantamento mais recente apontou que o consumo de qualquer droga
(exceto álcool e tabaco), no último ano, foi mais elevado entre
alunos da rede particular do que os da rede pública (13,6%) versus
(9,9%).
As
drogas mais frequentemente usadas pelos estudantes, no último ano,
foram as bebidas alcoólicas e o tabaco, com proporções de 42,4% e
9,6%, respectivamente. Dentre as drogas ilícitas, a proporção mais
elevada de consumo foi referente à maconha (3,7%).
Entre
as meninas, foram registradas, no último ano, proporções mais
elevadas de uso de álcool, anfetamínicos (sob a forma de remédios
para emagrecer) e ansiolíticos (calmantes), se comparadas às
utilizadas
pelos
meninos.
O
primeiro (e único, até o momento) levantamento nacional sobre
drogas referente a universitários brasileiros de instituições
públicas e privadas foi realizado em 2009, em todas as 27 capitais
do país.
Esse
estudo revelou que o álcool foi a substância mais frequentemente
consumida pelos universitários nos 12 meses que antecederam a entre
vista (72%). Um em cada três universitários referiu pelo menos uma
ocasião de consumo do álcool em binge, no último ano. Destaca-se,
ainda, que, entre os universitários menores de 18 anos, quase 80%
disse já ter consumido algum tipo de bebida alcoólica na vida.
No
último ano, o tabaco foi consumido por 28% dos universitários,
sendo a proporção de uso mais elevada entre os alunos de
instituições privadas do que os das públicas (30% versus 20%).
O
consumo de drogas ilícitas foi relatado por 36% dos universitários,
sendo a maconha a droga ilícita mais frequentemente consumida pelos
entrevistados (14% referiram o uso), destacando-se também o uso de
drogas sintéticas, como o ecstasy, por parte de 3,1% dos alunos. O
consumo de drogas ilícitas foi mais frequente nas regiões Sul e
Sudeste, e menos frequente nas regiões Norte e Nordeste.
Aproximadamente
40% das crianças e adolescentes entrevistados não frequentavam a
escola. Assim, o trabalho de prevenção realizado exclusivamente nas
escolas não alcança tais sujeitos. Tal limitação fala a favor de
duas questões complementares:
a)
a implementação, nas escolas, de políticas de inclusão de todas
as crianças e adolescentes em idade escolar, o que constitui uma
meta factível, plenamente realizada nos países europeus e da
América do Norte;
b)
a formulação e implementação de políticas de prevenção fora do
contexto escolar, que deverão ser desenvolvidas em comunidades,
associações recreativas e esportivas, programas de saúde da
família, etc.
Em
anos recentes, a mídia vem divulgando informações a respeito da
disseminação do crack em nossa sociedade, o que se traduz, para
muitos, na ideia de ser essa a droga mais consumida no país. Fato
esse que não foi confirmado por uma pesquisa recente, realizada pela
Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), que investigou a prevalência do
consumo de crack e/ou similares nas capitais do país, em 2012.
Esse
estudo revelou que 0,8% da população desses municípios consumiu
essas drogas de forma regular nos últimos seis meses. Estimou também
que o número de usuários regulares de drogas ilícitas (com exceção
da maconha) correspondia a 2,3% da população das capitais. Assim, o
crack e/ou similares foi consumido por um terço dos usuários de
drogas ilícitas (com exceção da maconha), o que se contrapõe às
formulações que circulam pelos meios de comunicação.
O
Relatório Brasileiro sobre Drogas, publicado em 2009, traz diversos
indicadores epidemiológicos que podem servir para dimensionar o
cenário nacional sobre o consumo de drogas, como análises das
internações decorrentes do uso de drogas no SUS, mortalidade e
afastamentos/aposentadorias decorrentes do consumo de drogas, crimes
por posse e tráfico de drogas, e apreensões de drogas pela Polícia
Federal, entre outros.
Segundo
o Relatório, observa-se uma tendência de aumento na apreensão de
cocaína no Brasil no período de 2001 a 2007. O ano de 2007 também
foi aquele em que foram registradas mais apreensões
de
drogas, como o crack, pasta base, maconha, haxixe e ecstasy. Esse
aumento, no entanto, não pode ser interpretado exclusivamente como
um reflexo do maior consumo e circulação de drogas no país, mas
também como decorrente de um incremento na quantidade e na eficácia
das operações policiais de apreensão de drogas.
FONTE:
Curso
Prevenção dos Problemas Relacionados ao Uso de Drogas: Capacitação
para Conselheiros e Lideranças Comunitárias - 6ª edição,
promovido pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas do
Ministério da Justiça (SENAD-MJ) e executado pelo Núcleo
Multiprojetos de Tecnologia Educacional da Universidade Federal de
Santa Catarina (NUTE-UFSC).
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