O ser
humano, assim, é um ser social e histórico que passa por diversas mudanças e
processos no decorrer do tempo, devido à cultura e às condições sociais
produzidas pela humanidade. A internalização desses processos sociais acontece
mediada por sistemas simbólicos. O ser humano e seu projeto de vida possuem uma
origem e uma finalidade, e a sociedade apresenta os limites e possibilidades de
elaboração e construção, baseando-se nos modos culturalmente construídos para
ordenar a realidade.
O projeto de
vida deve considerar as expectativas do sujeito em relação ao seu futuro e as
suas possibilidades reais, enfatizando as escolhas pessoais na definição das
estratégias para atingir esse futuro e assumindo a responsabilidade pelas
decisões e comportamentos adotados.
O cotidiano é a
interface entre o passado, o presente e o futuro nas duas esferas da vida
cotidiana: o público e a intimidade. O passado se refere à história e à
memória; o presente, à ordem da experiência como superação do passado pela
mediação do presente, sendo o futuro um aspecto central no projeto de vida.
A abordagem
psicossocial compreende que a nossa história de vida é marcada pelas relações
em rede, cujas estruturas social e familiar, bem como as experiências
culturais, se manifestam no dia a dia, constituindo o sujeito em sua totalidade,
que afeta e é afetado no mundo, enfatizando a interação e a interdependência
dos fenômenos biopsicossociais e buscando pesquisar a natureza dos processos
dinâmicos do homem em sua vivência cotidiana.
A família é
unidade básica da sociedade formada por sujeitos com ancestrais em comum ou
ligados por laços afetivos. É a primeira referência da pessoa. Mediadora entre
o sujeito e a sociedade, é onde aprendemos a perceber o mundo e a nos situarmos
nele. É um dos grupos responsáveis por nossa formação pessoal.
A família na
contemporaneidade
Tipos de Família
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Características
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Família
nuclear
Família monoparental |
Pai
e mãe estão presentes, morando na mesma casa, e todas as crianças são filhos
deste casal.
Apenas
a mãe (ou o pai) está presente, vivendo com seus filhos e, eventualmente, com
outros menores de idade sob sua responsabilidade, sem nenhuma pessoa maior de
18 anos, que não seja filho, morando na casa.
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Família
recasada
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Pai
e/ou mãe vivendo em nova união, legal ou consensualmente, e podem ter seus
filhos vivendo ou não juntos na mesma casa, sejam deles próprios, sejam de
casamentos anteriores.
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Família
não convencional
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Grupo
mais amplo que consiste na família nuclear (pai, mãe, filhos) mais os
parentes diretos de ambos os lados, existindo uma extensão das relações entre
pais e filhos para pais, avós e netos.
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Família
homoafetiva
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Casais
do mesmo sexo adotam filhos ou um deles faz inseminação artificial ou via
barriga de aluguel.
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Família
de pais separados
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Família
dissolvida, porém os ex-cônjuges ficam com a guarda compartilhada dos filhos.
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Família
de filhos adotivos
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Devido
a algum problema de infertilidade, o casal adota filhos ou, além de terem
filhos biológicos, optam pela adoção também.
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Família
uniparental
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É
assim definida quando o ônus da criação do filho é de apenas do marido ou da
mulher, seja por viuvez, seja por maus tratos, etc.
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Família
sem filhos
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Resulta
da combinação de mudanças na maternidade (muitos casais esperam mais tempo
para ter filhos ou excluem a gestação de seus planos) ou, na evolução da
educação e da renda, permitem que os filhos saiam de casa para estudar e
trabalhar.
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Sabemos que
a família desempenha papel fundamental não só na relação com seus membros, mas
também na relação com o Estado, na perspectiva de instituição social decisiva
ao desenvolvimento do processo de integração/inclusão social de seus membros.
Assim, a
família, através da construção da autonomia e independência de seus membros,
deve favorecer a formação de um sujeito capaz de organizar sua própria vida e
responsabilizar-se por suas relações sociais, fortalecendo a manutenção de
laços afetivos já existentes, bem como formando novos laços.
A inclusão
da família é muito importante na construção de qualquer processo de compreensão
e intervenção com o usuário, devendo ser incluída desde o começo em todas as
ações em saúde, o que torna fundamental conhecê-la, em suas potencialidades e
fraquezas, suas redes e suas determinações para as possibilidades (ou não) de
mudanças. Assim, a família deveria ser protagonista de todo o processo de
acompanhamento do sujeito.
O impacto
que a família sofre com o uso problemático de álcool e outras drogas por um de
seus membros é correspondente às reações que vão ocorrendo com o sujeito que as
utiliza. Podemos resumir esse impacto através de quatro estágios pelos quais a
família progressivamente passa sob a influência das drogas e do álcool.
Na primeira
etapa, é preponderantemente o mecanismo de negação. Ocorre tensão e
desentendimento, e as pessoas deixam de falar sobre o que realmente pensam e
sentem;
Em um
segundo momento, a família demonstra muita preocupação com essa questão,
tentando controlar o uso da substância, bem como as suas consequências físicas,
emocionais, no campo do trabalho e no convívio social. Mentiras e cumplicidades
relativas ao uso problemático de álcool e outras drogas instauram um clima de
segredo familiar. A regra é não falar do assunto, mantendo a ilusão de que as
drogas e o álcool não estão causando problemas na família;
Na terceira
fase, a desorganização da família começa a ocorrer. Seus membros assumem papéis
rígidos e previsíveis. As famílias assumem responsabilidades de atos que não
são seus. Assim, o usuário problemático perde a oportunidade, muitas vezes, de
perceber as consequências do abuso de álcool e de outras drogas. É comum
ocorrer uma inversão de papéis e funções; por exemplo, a esposa que passa a
assumir todas as responsabilidades da casa em decorrência do alcoolismo do
marido, ou a filha mais velha passa a cuidar dos irmãos em consequência do uso
de álcool e outras drogas por parte da mãe.
O quarto
estágio é caracterizado pela exaustão emocional, podendo surgir graves
distúrbios de comportamento e de saúde em vários de seus membros. A situação
fica insustentável, levando ao afastamento dos membros e gerando rupturas
familiares.
Dados esses
processos, é fundamental que as famílias sejam incluídas em programas de prevenção
e de tratamento e incentivadas em seu protagonismo.
Embora tais estágios
definam um padrão da evolução do impacto das substâncias, não se pode afirmar
que em todas as famílias o processo será o mesmo, mas indubitavelmente existe
uma tendência de os familiares se sentirem culpados e envergonhados por terem
um de seus membros nessa situação. Muitas vezes, devido a sentimentos, a
família demora muito tempo para admitir o problema e procurar ajuda externa e
profissional, o que corrobora para agravar o desfecho do caso.
O exercício
da cidadania para o sujeito em tratamento significa o estabelecimento ou
resgate de uma rede social inexistente ou comprometida pelo período do uso
problemático da droga. Nesse cenário, focar somente na abstinência da droga
para o sujeito deixa de ser o objetivo maior do tratamento, pois, para o
dependente, a sua maior dificuldade é justamente não conseguir interromper o
uso, geralmente relacionado à sua situação de vulnerabilidade, decorrente da
fragilidade de seus vínculos sociais. Assim, a reinserção social torna-se,
neste milênio, o grande desafio para o profissional que se dedica à área do uso
problemático de álcool e outras drogas.
O processo
de reinserção começa com a avaliação social, momento em que se mapeia a vida do
sujeito em aspectos significativos que darão suporte à retomada de seu projeto
originário ou à construção de um novo projeto de vida. Por isso, faz-se
necessário assumir uma postura de acolhimento do sujeito, no qual a atitude
solidária e a crença na capacidade de ele construir e/ou restabelecer sua rede
social irão determinar o estabelecimento de um vínculo positivo entre ambos. É uma
parceria na qual a porta para a ajuda estará sempre aberta, desde que o
trânsito seja de mão dupla.
FONTE:
Ileno Izídio da Costa
Professor Adjunto do
Departamento de Psicologia Clínica, Ex-Vice-Diretor do Instituto de Psicologia
da UnB e do Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos (Clínica-escola).
Atual Coordenador de Projetos Especiais do Instituto de Psicologia da UnB, do
Grupo Personna (Estudos e Pesquisas sobre violência e criminalidade), do Grupo
de Intervenção Precoce nas Psicoses (GIPSI) e do Curso de Especialização em
Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas (Lato Sensu), em parceria com o Ministério
da Saúde. Presidente da Associação de Saúde Mental do Cerrado (ASCER).
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