17/06/2014
Pertence à
cultura popular do futebol a vaia a certos jogadores, a juízes e eventualmente
a alguma autoridade presente. Insultos e xingamentos com linguagem de baixo
calão que sequer crianças podem ouvir é coisa inaudita no futebol do Brasil.
Foram dirigidos à mais alta autoridade do país, à Presidenta Dilma Rousseff,
retraída nos fundos da arquibancada oficial.
Esses
insultos vergonhosos só podiam vir de um tipo de gente que ainda têm visibilidade
do país, “gente branquíssima e de classe A, com falta de educação e sexista’
como comentou a socióloga do Centro Feminista de Estudos, Ana Thurler.
Quem conhece
um pouco a história do Brasil ou quem leu Gilberto Freyre, José Honório
Rodrigues ou Sérgio Buarque de Hollanda sabe logo identificar tais grupos. São
setores de nossa elite, dos mais conservadores do mundo e retardatários no
processo civilizatório mundial, como costumava enfatizar Darcy Ribeiro, setores
que por 500 anos ocuparam o espaço do Estado e dele se beneficiaram a mais não
poder, negando direitos cidadãos para garantir privilégios corporativos. Estes
grupos não conseguiram ainda se livrar da Casa Grande que a tem entrenhada na
cabeça e nunca esqueceram o pelourinho onde eram flagelados escravos negros.
Não apenas a boca é suja; esta é suja porque sua mente é suja. São velhistas e
pensam ainda dentro dos velhos paradigmas do passado quando viviam no luxo e no
consumo conspícuo como no tempo dos príncipes renascentistas.
Na linguagem
dura de nosso maior historiador mulato Capistrano de Abreu, grande parte da
elite sempre “capou e recapou, sangrou e ressangrou” o povo brasileiro. E
continua fazendo. Sem qualquer senso de limite e por isso, arrogante, pensa que
pode dizer os palavrões que quiser e desrespeitar qualquer autoridade.
O que
ocorreu revelou aos demais brasileiros e ao mundo que tipo de tipo de
lideranças temos ainda no Brasil. Envergonharam-nos aqui e lá fora. Ignorante,
sem educação e descarado não é o povo, como costumam pensar e dizer. Descarado,
sem educação e ignorante é o grupo que pensa e diz isso do povo. São setores em
sua grande maioria rentistas que vivem da especulação financeira e que mantém
milhões e milhões de dólares fora do país, em bancos estrangeiros ou em paraísos
fiscais.
Bem disse a
Presidenta Dilma: “o povo não reage assim; é civilizado e extremamente generoso
e educado”. Ele pode vaiar e muito. Mas não insulta com linguagem xula e
machista a uma mulher, exatamente aquela que ocupa a mais alta representação do
país. Com serenidade e senso de soberania pessoal deu a estes incivilizados uma
resposta de cunho pessoal: “Suportei agressões físicas quase insuportáveis e
nada me tirou do rumo”. Referia-se às suas torturas sofridas dos agentes do
Estado de terror que se havia instalado no Brasil a partir de 1968. O
pronunciamento que fez posteriormente na TV mostrou que nada a tira do rumo nem
a abala porque vive de outros valores e pretende estar à altura da grandeza de
nosso país.
Esse fato
vergonhoso recebeu a repulsa da maioria dos analistas e dos que saíram a
público para se manifestar. Lamentável, entretanto, foi a reação dos dois
candidatos a substitui-la no cargo de Presidente. Praticamente usaram as mesmas
expressões, na linha dos grupos embrutecidos: “Ela colhe o que plantou”. Ou o
outro deu a entender que fez por merecer os insultos que recebeu. Só espíritos
tacanhos e faltos de senso de dignidade podiam reagir desta forma. E estes se
apresentam como aqueles que querem definir os destinos do país. E logo com este
espírito! Estamos fartos de lideranças medíocres que quais galinhas continuam
ciscando o chão, incapazes de erguer o voo alto das águias que merecemos e que
tenham a grandeza proporcional ao tamanho de nosso país.
Um amigo de
Munique que sabe bem o português, perplexo com os insultos comentou: “nem no
tempo do nazismo se insultavam desta forma as autoridades”. É que ele talvez
não sabe de que pré-história nós viemos e que tipo de setores elitistas ainda
dominam e que de forma prepotente se mostram e se fazem ouvir. São eles os
principais agentes que nos mantém no subdesenvolvimento social, cultural e
ético. Fazem-nos passar uma vergonha que, realmente, não merecemos.
Leonardo Boff - Professor emérito
de Ética e Escritor.
Ainda hoje o povo é escravo dos poderosos, que usam a expressão "Manda quem pode e obedece que tem juízo". A nossa presidenta é uma mulher de fibra e sabe lidar com essas situações. Da vergonha assistir esses fatos.
ResponderExcluirInfelizmente ainda hoje é assim. O povo brasileiro tem memória histórica curta... se estão insatisfeitos usem o melhor instrumento de protesto que tem - O VOTO!
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