Lucélia Muniz
Ubuntu Notícias, 16 de março de 2018
*Maria
de Fátima Freire é natural de Nova Olinda-CE e reside
em Campo Grande-MS.
*Professora, pós-graduada em Geografia.
Entrevista
Ubuntu Notícias - Dentro do contexto atual, na sua opinião, quais as principais
conquistas alcançadas pelas mulheres?
Fátima
Freire - A luta das mulheres é diária e contínua.
Muitas já foram às conquistas tais como o direito de ir e vir, de trabalhar,
votar, estudar, participar de decisões políticas e econômicas do país dentre
tantas outras coletivas e individuais, pois cada mulher tem suas lutas
internas. Acredito que algumas conquistas como a Lei Maria da Penha, foi um
grande avanço na luta feminina e continua sendo uma aliada para que muitas
mulheres criem coragem de buscar seus direitos, ressalto que a mesma precisa
ser aprimorada e ser rigorosa no cumprimento das leis. Algumas posições sociais
que as mulheres alcançaram assim como a liberdade sexual também são grandes de
grande importância para que as mulheres continuem a enfrentar e vencer
obstáculos.
Ubuntu Notícias - E você, qual sua principal conquista enquanto mulher?
Fátima Freire - A minha maior
conquista enquanto mulher é a LIBERDADE. Liberdade
essa que foi muito difícil de conquistar, diante de uma criação machista que
predomina no Brasil, porém mais intensa no interior do Nordeste, onde ser
mulher é difícil. Acredito que essa luta de ser mulher começa logo ao nascer,
pois os pais preferem ter filhos homens, que teoricamente são mais fortes para
desenvolver o trabalhar e com isso dariam mais lucros para os pais do que as
filhas mulheres. Depois enfrentamos as lutas da sociedade, os padrões de beleza
impostos, os comportamentos ideias para as mulheres tais como as formas de
vestir, falar e o comportar-se de uma mulher, a idade certa ou ideal de casar e
ter filhos, ser inferior aos homens, entre tantos outros. Então, fugir de
alguns desses padrões muitas vezes é uma afronta, querer estudar no meu caso
foi um grande desafio. Quando decidi cursar o ensino superior em outro
município e ir em busca de uma profissão, me deparei com diversos preconceitos
muitos deles vindos por outras mulheres. Ouvi que mulher tem que casar e ter
filhos, que mulher não precisa estudar, que o diploma de mulher é filho, enfim
não foram poucos os absurdos. Por outro lado, recebi muito apoio de mulheres
como minha mãe e minhas irmãs, essas mulheres que são guerreiras que me
ensinaram o verdadeiro significado de ser mulher, que somos fortes e podemos ser
o que quisermos. Então, quando falo que minha maior conquista foi a LIBERDADE,
estou falando de me libertar dessa sociedade machista onde mostrei que eu
poderia sim estudar, ter uma profissão, realizar meus sonhos (pessoais e
materiais). A liberdade de me vestir da forma que gosto, de não ter que seguir
padrões impostos, tudo isso me faz feliz e uma mulher realizada. Almejo muito
mais e irei conseguir e seguirei exercendo o meu papel de mulher diante da sociedade.
Ubuntu Notícias
- Em pleno século XXI, quais situações ainda são enfrentadas pelas mulheres?
Seja na questão de gênero, na falta de políticas públicas e/ou no contexto
socioeconômico.
Fátima Freire – São inúmeras
situações que nós enfrentamos todos os dias, irei enumerar algumas: Preconceito
de gênero; Violência; Desigualdade (econômica e social); Injustiças; Abusos. Diariamente
noticiamos ou presenciamos situações de violência, abusos e preconceitos contra
as mulheres. Parece até normal ouvir falar que uma mulher foi abusada ou
agredida. Por mais absurdo que seja, em pleno século XXI, em algumas profissões
as mulheres são menos remuneradas e possuem menos direitos trabalhistas. Diante
de tantas tecnologias e avanços, o retrocesso em relação ao gênero feminino
continua, os índices de violência crescem de forma acelerada, as mulheres
continuam presas dentro de si. Muitas não se vestem como gostariam ou não
seguem seus sonhos por medo, medo de serem julgadas, excluídas, violentadas ou até
mesmo mortas por ser mulher. O pior de tudo é que muitas não fizeram nada ou
não farão nada, porém sofreram ou sofrerão alguma injustiça pelo simples fato
de ser mulher. Ainda há muito para ser conquistado, temos muitas barreiras para
ultrapassar.
Ubuntu Notícias - E como a Educação pode ser usada como uma “arma” no combate a estas
situações?
Fátima
Freire – A educação é a base de uma sociedade! Ela tem o
poder de transformar. Essa educação deve começar através da conscientização dentro
de nossa casa, entre pais e filhos e continuar nas escolas, nas universidades e
em todos os espaços sejam públicos ou particulares. As mulheres precisam ser
empoderadas, precisamos ter consciência da nossa importância diante da
sociedade. As crianças devem ser ensinadas a respeitar as mulheres diante de
qualquer situação, assim teremos uma sociedade adulta que respeitem as
mulheres. Infelizmente temos números exorbitantes de maus tratos e assassinatos
contra mulheres. Atualmente valorizamos as leis e, tenho a sensação que
ignoramos a questão educativa na infância, a origem de todas as personalidades
adultas. De que servem leis exemplares quando a mulher já está morta? De que
servem condenações exemplares se o machismo continua
sendo propagado por todos os lados? A educação está
sendo falha, porque muitos absurdos se repetem ano após ano. Os pais quando
precisamos educar, têm muito a fazer, porque a responsabilidade é enorme. Um
homem não nasce estuprador e nem machista. Ele aprende por imitação,
principalmente em casa. E tanto da mãe como do pai. A educação é o
caminho certo, porém longo, às vezes difícil, mas sempre tem que estar na mesma
linha. Se estamos horrorizados com o machismo, não podemos continuar educando
as crianças com estereótipos como os “meninos não choram; isso é para maricas;
para ser bonita tem que sofrer; que esse esporte é de meninos; bonecas são para
meninas”... “A lista é interminável.” E, continua na adolescência e na fase
adulta. Então a educação é o único caminho a se seguir, através da equidade de
gênero dentro de nossas casas. A tarefa educativa para frear este flagelo do
machismo é enorme. E, ou começamos a trabalhar sério, ou continuaremos
lamentando muitas mortes a cada ano. Através da educação é possível alcançarmos os
ideais que tanto desejamos, onde mulheres não tenham medo de serem mulheres de
todas as formas possíveis, que tenhamos uma sociedade com equidade de gênero.
Ubuntu Notícias - Deixe-nos uma mensagem neste Dia Internacional da Mulher.
Fátima Freire – Inicialmente
quero parabenizar todas as mulheres do Brasil em especial do nosso município e
principalmente a mulher responsável por esse espaço a Lucélia Muniz. Desejo que
não apenas nesse mês de março ou somente dia 08 de março, mas que todos os dias
do ano, nós (mulheres) sejamos reconhecidas e respeitadas. Que possamos
refletir sobre as lutas do passado e reconhecer o quanto as mesmas foram
importantes para a atualidade, que tudo que hoje desfrutamos é resultado de
esforços coletivos e individuais de guerreiras que perderam até suas vidas em
busca de direitos. Sei que não é fácil ser mulher porem é gratificante, que não
somos nada frágeis, pelo contrário somos uma fortaleza. E por essas e outras
razões que não devemos nos curvar diante de nenhuma situação, que a cada dia
lutemos para ocupar o nosso espaço na sociedade. Desejo muito amor próprio,
coragem, determinação e força para serem MULHERES! Nunca ouvi uma definição
concreta sobre o que é ser mulher. Todas as palavras já faladas não nos
definiram por completo porque somos indefinidas. Fazemos parte de uma história
de luta e de conquistas. Uma história que nos orgulha e nos incentiva a
continuar escrevendo cada capítulo dessa infinita obra que é ser MULHER!
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